Caron (2005:776) – O homem não é/está aí, ele é o Aí

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O homem não é/está aí, ele é o Aí, o lugar privilegiado de uma clareira, um espaço desimpedido para liberar a possibilidade de manifestação: “o homem desdobra a sua essência de tal modo que ele é o aí, isto é, a clareira do ser” (GA9, p. 325; Q III e IV, p. 81). O homem não é esse ente que está aí, isto é, lançado na contingência de uma dada estância, mas o domínio onde há ser. Mais profundamente do que onticamente, como ente no meio do ente, o Dasein é ontologicamente lançado, como estando aberto a uma noite inicial e prepotente que confere a cada ente seu espaço de aparição. A noite ou mistério com que o si mesmo mantém uma intimidade estrutural e transcendental permite que tudo avance para o aberto da manifestação: oferece-se um campo de receptividade para a estância do fenômeno. Esta noite, ao conceder o espaço necessário à difusão de todo o ente, torna possível a fenomenalidade: uma coisa só aparece na sua individualidade se lhe for concedido o espaço necessário à sua irradiação para que possa ocupar um lugar. A noite, constituindo o retiro por excelência, ou o próprio vazio, a escuridão, mostra o seu próprio apagamento e vazio para que a coisa possa impor os seus contornos e oferecer-se ao olhar. Esta escuridão transcendental, paradoxal mas logicamente, é para a ipseidade a condição de possibilidade de toda a luz e de toda a visão.

Original

CARON, Maxence. Pensée de l’être et origine de la subjectivité. Paris: CERF, 2005.

  1. Novalis, Hymnes à la Nuit, I, éd, bilingue, Aubier, 1943, p. 81.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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