Caputo (MEHT:162-163) – homem em Heidegger e Eckhart (III)

destaque

O grande ser da alma deve ser o “lugar de nascimento” do Filho, a “clareira” na qual o Pai engendra o seu Filho. O grande ser do Dasein deve ser o lugar da verdade, a clareira onde se realiza o “acontecimento da apropriação” (Ereignis), o acontecimento da verdade. Em ambos os casos, a verdadeira dignidade do homem reside na sua pobreza, isto é, no modo humilde como ele fornece um abrigo e uma preservação para um acontecimento transcendente. O homem não pode, de modo algum, realizar este acontecimento por si próprio; pode apenas fazer uma “clareira” onde o acontecimento possa ter lugar. Existe um paralelo convincente entre a forma como Heidegger articula o acontecimento da verdade e a forma como Eckhart descreve o nascimento do Filho, um paralelo que faz sobressair de forma marcante a afinidade entre o pensador e o místico.

(…) Para Heidegger, Ser “é” (west) o próprio processo de realização em Dasein, e Dasein “é” o próprio processo de deixar Ser revelar-se. A “relação” entre Ser e Dasein não é algo acrescentado a nenhum deles. Pelo contrário, a entidade essencial (Wesen) de cada um deve estar relacionada ao outro. Assim, num texto que, deste ponto de vista, é muito interessante, Heidegger fala dos “mortais” (Dasein) como “das wesende Verhältnis zum Sein als Sein” (GA7:177/179). É claro que “Wesen” é para ser entendido verbalmente, e por isso esta frase significa: a relação com o Ser (Sein) cuja essência (Wesen) é para essenciar (”wesen” tomado como um infinitivo) uma relação. Utilizando a sugestão de Adamczewski de que “Wesen” seja traduzido como “modo de ser”, a frase significa: a relação com o Ser cujo modo de ser é ser/estar relacionado. O Ser do Dasein é estar relacionado com Ser; para o Dasein, ser é estar relacionado (esse est referri). Assim, também Heidegger propõe algo como uma “relação subsistente” (ein wesendes Verhältnis) entre Ser e Dasein.

original

[CAPUTO, John D.. The Mystical Element in Heidegger’s Thought. New York: Fordham University Press, 1986]

  1. GA7 Vorträge und Aufsätze. 2. Auflage. Pfullingen: Verlag Günther Neske, 1959.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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