Caeiro (2014:7-8) – o tempo da vida

E as épocas das vidas, com os seus inícios e os seus fins, não são diferentes de vidas para vidas?

E se o tempo da vida não resultasse de juntar um segundo a cada novo segundo até perfazer um minuto? E se o tempo da vida inteiro não resultasse de juntar sessenta minutos numa hora, vinte e quatro horas num dia, sete dias numa semana, quatro semanas num mês e doze meses num ano, ou os anos todos das nossas vidas no tempo da vida?

E se o tempo todo da vida vibrasse já – mesmo sem ter sido esgotado ou vivido até ao seu limite extremo – de modo comprimido e compacto num segundo? E se o tempo todo da vida estivesse maciça e densamente compactado no primeiro segundo de vida tal como no último?

Todos os momentos em que se percorre o caminho encontram-se entre o primeiro instante e o derradeiro. Todos são princípio e ao mesmo tempo fim. Todos duram, mesmo que um instante. A vida começa ao fim-de-semana ou nas férias, porque a vida começa nas vésperas de tudo. Acaba também de véspera. E vivemos sempre nessa iminência, num “ainda não”.

(CAEIRO, António de Castro. Um Dia não são Dias. Lisboa: Abysmo, 2014, p. 7-8)