Quem não está ligado a nenhuma coisa e a nenhum lugar determinados, quem caminha e não habita em parte alguma está acima de qualquer perda. Quem não possui nada de determinado também não perde nada:
Se um barco está escondido no lodo, se uma montanha está escondida no fundo do mar, pensa-se que estão seguros; mas à meia-noite vem alguém forte, carrega-os às costas e parte, enquanto o [proprietário] dorme e não percebe nada disso. Um grande espaço é adequado para esconder uma coisa pequena, mas existe a possibilidade de que ela se perca; mas, se o mundo estiver escondido dentro do mundo 1, ele não pode se perder 2.
Aqui, Zhuang Zhou tematiza uma relação particular com o mundo. Exige-se que o ser-no-mundo dissolva suas fronteiras e se torne um ser-mundo, desdiferenciando-se. O ser humano – ou, para falar como Heidegger, o Dasein – está em ocupação na medida em que é menor que o mundo e se distingue no interior do mundo. Para desocupar-se, ele deve ser o mundo inteiro e se desdiferenciar no mundo em vez de se apegar a um conteúdo determinado do mundo, a uma distinção. Ser-no-mundo é ocupação. Ao contrário, ser-mundo é ser sem ocupação.
- A expressão “o mundo escondido dentro do mundo” (zan tian xia yu tian xia, 掌天下於天下) é uma tradução literal, que prefiro à tradução de Richard Wilhelm, “o (espírito) do mundo escondido dentro do mundo”. Não se trata de “espírito” aqui.[
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- Zhuang Zhou. Das wahre Buch vom südlichen Blütenland. Düsseldorf: Diederichs, 1969, p. 87.[
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