Buzzi – Ciência e Representação

O filósofo não pretende construir uma representação que colha o ser na sua originariedade. A filosofia não é um saber representar o ser, como a matemática é um saber representar a realidade more geometrico, como a física é um saber representar os corpos em sistemas. A filosofia não se furta e nem pode se furtar de representar, pois o ser só se revela na «representação». É na objetividade do ser percebido ou representado que se dá a verdade do ser. Enquanto se atende a essa objetividade crítica, a filosofia é um dentre os demais saberes do homem. Mas ela se consuma, ela se realiza quando percebe na representação o não representável, isto é, o ser. E nisso ela se diferencia das ciências: tematiza o ausente no presente. Mostra que o que se dá vive do que se esquiva ao poder representativo da inteligência.

A ciência não é senão uma representação derivada do pensar filosófico, uma representação absolutizada em si mesma, consolidada, esquecida de sua referência transcendental ao ser.

«A filosofia nunca nasce da ciência nem pela ciência. Também jamais se poderá equipará-la às ciências. É-lhes antes anteposta e não apenas «logicamente» ou num quadro do sistema das ciências. A filosofia situa-se num domínio e num plano da existência espiritual inteiramente diverso» (M. Heidegger, Introd. à Metafísica, p. 54).

{[BUZZI, A. Introdução ao pensar. Petrópolis: Vozes, 1973.]}