Butler (2011) – temporalidade e momento

A noção de temporalidade não deve ser interpretada como uma simples sucessão de “momentos” distintos, todos igualmente distantes uns dos outros. Esse mapeamento espacializado do tempo substitui um certo modelo matemático pelo tipo de duração que resiste a tais metáforas espacializantes. Esforços para descrever ou nomear esse intervalo temporal tendem a envolver mapeamentos espaciais, como argumentaram filósofos de Bergson a Heidegger. Portanto, é importante enfatizar o efeito de sedimentação que a temporalidade da construção implica. Aqui, o que são chamados de “momentos” não são unidades de tempo distintas e equivalentes, pois o “passado” será a acumulação e o congelamento desses “momentos” até o ponto de sua indistinguibilidade. Mas também consistirá daquilo que é recusado na construção, os domínios do reprimido, do esquecido e do irremediavelmente excluído. Aquilo que não é incluído — exteriorizado por um limite — como um constituinte fenomenal do efeito sedimentado chamado “construção” será tão crucial para sua definição quanto aquilo que é incluído; essa exterioridade não é distinguível como um “momento”. De fato, a noção de “momento” pode muito bem ser nada mais do que uma fantasia retrospectiva de domínio matemático imposta sobre as durações interrompidas do passado.

(BUTLER, J. Bodies that matter: on the discursive limits of “sex”. London New York: Routledge, Taylor & Francis Group, 2011)

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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