A conversa fiada parece ser a versão decaída do discurso; em alemão, a conexão etimológica entre a primeira (Gerede) e a última (Rede) é clara. A conversa fiada é a consequência de dois fatos básicos sobre o Dasein que já abordamos: quando adquirimos facilidade em usar equipamentos, podemos parar de prestar atenção ao uso que fazemos deles (1.II) e somos criaturas intrinsecamente sociais (1.IV). Quando combinadas, elas significam que podemos nos desligar de uma conversa e deixar nossa boca funcionar no piloto automático, simplesmente tagarelando com pouca atenção às nossas próprias palavras ou às do nosso interlocutor. Além disso, podemos simplesmente repassar o que ouvimos sem examinar o significado por nós mesmos. Posso lhe contar o que me disseram sobre os problemas do meu computador sem entender uma palavra sequer. Nos termos de Heidegger, não faço com que o fenômeno em questão se mostre genuinamente em minha clareira, mesmo quando falo dele com precisão (SZ:169). Husserl fala sobre isso em seu último ensaio, “The Origin of Geometry”, quando distingue entre a maneira distraída com que a maioria de nós faz matemática e a maneira com que alguém como Descartes fez isso com uma percepção clara e distinta focada em cada etapa.
A conversa fiada representa quase a inversão exata do discurso: ela “equivale a perverter o ato de revelar em um ato de fechar” (169). Enquanto o discurso faz parte da clareira porque abre as coisas para nós, mostrando-nos o mundo, a conversa fiada nos impede de ter experiências vívidas e explícitas. Transmitimos o que “o impessoal” (das Man) diz sobre os problemas no Oriente Médio ou sobre problemas no motor, sem pensar ou ter uma visão própria sobre os assuntos. A conversa fiada contém e perpetua as estruturas prévias de compreensão do “impessoal”, de modo que automaticamente pensamos e vemos da mesma forma que o impessoal: “o ‘impessoal’ prescreve o estado de espírito e determina o que e como ‘vemos’” (170).
BRAVER, Lee. Heidegger. Thinking of Being. London: Polity Press, 2014