O nascimento do tempo — e o nascimento de uma natureza liberada de sua longa história, despojada de seus atributos metafísicos, livre e matinal. Essa é a natureza sobre a qual Hölderlin canta, apenas uma vez, em um único poema, no hino {Como em um dia de festa…}
<poesie> Pois ela mesma, mais velha que todos os temposE acima dos deuses da Noite e do Oriente
A natureza, hoje, despertou no choque de armas.
Invisível por força da luz, há tanto tempo esperada, há tanto tempo retida, a própria Natureza agora bate às portas da fala. A natureza e a palavra falada estão despertando uma para a outra, no mesmo despertar e no mesmo tumulto: a mobilização de um mundo e o choque de palavras que decidem. Inocentes e guerreiras, de fato, as palavras iniciais dos poetas forjam e forçam a natureza que já as está pressionando e solicitando. Como não há nascimento sem violência, há também algo marcial na primeira essência da palavra. Poderíamos dizer: das Wort ist Waffe — a palavra é uma arma, a palavra está armada, a palavra inaugural guarda os templos do sagrado.
A natureza, como mostra Heidegger, não designa aqui uma parte ou a totalidade das coisas existentes, mas, antes de mais nada, o nascimento de tudo o que vem ao mundo e como o devir-mundo do próprio mundo. A natureza é mais antiga do que todos os tempos atribuídos a homens, povos e coisas, mas não é mais antiga do que o tempo. Mais antiga e, portanto, mais primitiva e mais jovem do que todas as frações de tempo, como não poderia ainda ser temporal, eminentemente temporal? Ela é de fato temporal porque é o próprio tempo.
Sobre essa natureza caótica e sagrada, Hölderlin diz que ela está acima dos deuses. Acima, mas não além ou fora, pois no círculo de seu implacável e gentil abraço, ela abraça tudo o que é divino no mundo. A natureza é divinamente bela, não porque seja obra de um deus criador, mas porque, ao contrário, ela consagra os deuses em sua própria divindade — deuses, na verdade, que não são de forma alguma sobrenaturais. O sagrado não é um caráter emprestado de alguma divindade preexistente. O sagrado é a essência da natureza, e o caos é o próprio sagrado. Heidegger diz, de forma vigorosa e sóbria: “O sagrado não é sagrado porque é divino; ao contrário, o divino é divino porque, à sua maneira, é sagrado” (GA4).