(…) cada um dos existenciais pode ser realizado de forma autêntica ou não autêntica. Se há de fato uma relação entre os existenciais e os êxtases temporais, então cada um desses êxtases também deve ter uma forma autêntica e uma inautêntica. As formas autênticas devem, portanto, ser contrastadas com as formas inautênticas dos êxtases temporais.
O futuro autêntico é a antecipação da possibilidade extrema do Dasein: nessa antecipação, o Dasein chega ao seu próprio ser, esse ser lhe “ad-vem”. Mas: “Geralmente, o ser-no-mundo que está preocupado compreende a si mesmo com base naquilo com que está ocupado. A compreensão inautêntica projeta-se no que é acessível, conveniente, necessário, indispensável para os assuntos cotidianos… O Dasein não chega a si mesmo, de forma original, em seu poder-ser mais próprio…, mas está atento ao seu ser a partir desito que a ocupação lhe proporciona ou nega. O Dasein acessa a si mesmo a partir do que o ocupa (SZ:337).
O futuro autêntico, que é uma antecipação das possibilidades únicas do Dasein, é contrastado com o futuro inautêntico no qual o Dasein compreende seu ser com base nos objetos de sua ocupação. O que o Dasein é “atraído” — porque aqui também há uma certa antecipação — são os assuntos cotidianos e seu possível sucesso. O Dasein tende para… o objeto de suas ocupações. Heidegger chama essa tendência de gewärtigen, um termo que traduziremos como ad-tensão. Na ad-tensão que o leva em direção à sua ocupação diária, o Dasein abre uma certa perspectiva sobre o que pode esperar. A ad-tensão torna possible a espera. A mais leve reflexão nos mostra que a espera está sempre tendendo para o futuro. Enquanto o Dasein permanecer limitado exclusivamente ao presente, ele não poderá esperar. A espera pressupõe uma superação do presente, e o campo dessa superação é aberto pela ad-tensão.
Portanto, mesmo no futuro inautêntico, há uma superação do presente. O que o torna inautêntico é o fato de não levar o Dasein em direção ao seu próprio futuro, mas em direção àquele que será capaz de responder às suas ocupações.
Entretanto, o futuro (seja ele autêntico ou inautêntico) não pode existir sem os outros êxtases: os do passado e do presente; também podemos destacar o contraste entre suas formas autênticas e inautênticas.
(BIEMEL, Walter. Le concept de monde chez Heidegger. Paris: Vrin, 1987)