É aqui que se deve auscultar a terceira pergunta de sua carta: “comment sauver l’élément d’aventure que comporte toute recherche sans faire de la philosophie une simples aventurière?” Só de passagem, evoquemos a poesia. Ela se aclara diante da mesma questão do mesmo modo que o pensamento. Ainda são sempre válidas as palavras tão pouco pensadas da Poética de Aristóteles. segundo as quais poetizar é mais verdadeiro do que investigar o ente.
Todavia, não é só por procurar e perguntar pelo não-pensado que o pensamento é une aventure. Em sua Essência como pensamento do Ser, o pensamento é requisitado pelo próprio Ser. O pensamento se acha referido e dependente do Ser como o que está ad-vindo (l’avenant) . O pensamento está preso ao ad-vento do Ser, ao Ser como ad-vento. O Ser já se destinou sempre ao pensamento. O Ser é como o destino do pensamento. O destino, porém, é em sisi mesmo Histórico. Sua História já chegou, no dizer dos pensadores, à linguagem.
Transformar em linguagem cada vez esse ad-vento permanente do Ser que, em sua permanência, espera pelo homem, é a única causa (Sache) do pensamento. É por isso que os pensadores Essenciais dizem sempre o mesmo (das Selbe) ; isso, no entanto, não significa que digam sempre coisas iguais (das Gleiche). Sem dúvida, eles só o dizem a quem se empenha em re-pensá-los. Enquanto o pensamento, re-memorando Historicamente, preza o destino do Ser, ele já se prendeu ao destinado (das Schickliche), que se acorda com o destino. Todavia, o elemento de aventura (das Abenteuerliche) continua sendo o perigo constante do pensamento. Por que então o simples — a que se referiu acima — não haveria de permanecer, não em sisi mesmo mas para o homem, o mais perigoso? Pensemos sempre nas palavras de Hölderlin sobre a linguagem, no fragmento, “Aber in Hütten wohnet der Mensch” (“Mas é em choças que habita o homem). O Poeta chama a linguagem “o mais perigoso dos bens”. (CartaH)