Agamben (2015:252) – o impotente

É potente aquilo para o qual, se acontece o ato de que se diz ter a potência, não haverá nada de impotente (Metaph., 1047 a 24-25).

A leitura comum entende essa frase como se Aristóteles quisesse dizer: é possível aquilo em relação ao qual não há nada de impossível. Já Heidegger, em seu curso sobre o livro Theta da Metafísica (GA33), tinha ironizado sobre a “vácua sutileza” dos intérpretes que, com um “maldissimulado sentimento de triunfo”, atribuem a Aristóteles semelhante tautologia. A impotência, da qual se diz que no momento do ato não será nada, não pode ser, ao contrário, senão a adynamia que, segundo Aristóteles, pertence a toda dynamis: a potência de não (ser ou fazer). A tradução correta será, portanto: “É potente aquilo para o qual, se se dá o ato do qual se diz que ele tem a potência, nada haverá de potente não (ser ou fazer)”. Mas como entender, então, “nada haverá de potente não”? Como pode a potência neutralizar a impotência que lhe copertence?

(AGAMBEN, Giorgio. A potência do pensamento. Ensaios e conferências. Tr. Antônio Guerreiro. Belo Horizonte: Autêntica, 2015)

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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