Também o termo Ereignis, com o qual Heidegger designa o problema supremo de seu pensamento depois de Sein und Zeit, pode ser aproximado, do ponto de vista semântico, dessa esfera, como se torna evidente pela acepção heideggeriana (etimologicamente arbitrária) que lê nele o verbo eignen, “apropriar”, e o adjectivo eigen, “próprio”. Na medida em que indica uma apropriação, um ser próprio, Ereignis não está longe do significado do tema *se e, em referência a ele, podería significar o mesmo que “as-sue-fazione” (“as-sue-tude”), “as-so-luzione” (ab-so-lvição).
O próprio Heidegger relaciona o problema da Ereignis com o do Selbst, do mesmo. Semanticamente (mas não etimologicamente) eigen está para Selbst como idios para he. A etimologia aceita de Ereignis (a que Heidegger, de resto, também faz referência) remete o termo para o alemão antigo ouga (“olho”): ereignen < ir-ougen, pôr diante dos olhos. Em contrapartida, Eigen deriva de uma raiz *aig, que significa posse. (AGAMBEN, Giorgio. A potência do pensamento. Ensaios e conferências. Tr. Antônio Guerreiro. Belo Horizonte: Autêntica, 2015)