(Beaini1981)
A verdade se dá no processo de sua produção. Em sua proveniência essencial, ela é “aspiração” e “atração” à obra.1 Mas a “pro-dução” originária da verdade é primeiramente o movimento de “tornar presente” aquilo que é, na medida mesma em que “deixa ser” os entes e “faz advir” cada coisa na sua “espantosa realidade”. O deixar-ser que presentifica opera assim o desvelamento (“aletheia”). O desvelamento, porém, nasce do velamento, supõe o oculto como sua condição de possibilidade, provém do mistério. O movimento que re-vela, vela; garante, assim, o inacabável do processo.
Digamo-lo de outro modo. O pensamento de Heidegger trava um círculo de relações entre a verdade (compreendida como o desvelamento do ser dos entes particulares), o homem (compreendido como o “Dasein” revelador do ser dos entes particulares) e o Ser (compreendido como “mistério”, condição das possibilidades inacabáveis de ser dos entes e do se desvelamento). O círculo se completa: a questão da essência da verdade, requestionada, torna-se na questão da verdade da essência, isto é, na questão mesma do Ser e, com ela, na questão do homem, aquele que, afetado pelo Ser, questiona. Verdade, homem e Ser acabam por reunir-se numa única e mesma pergunta: aquela em que se constitui o cerne mesmo da Filosofia, ou melhor, aquela que é a “tarefa do pensamento”.
- Cf. M. Heidegger, “L’Origine de l’oeuvre d’art”, In: Chemins qui ne mènent nulle pari (Holzwege), trad. de W. Brokmeier, Paris, Gallimard, 1962, p, 47 e 49.[
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