Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Safranski: O existir humano

terça-feira 30 de maio de 2017

E como devo olhar, indaga Heidegger, para que possa se mostrar isso que o ser humano "é"?

A resposta só pode ser: se quiser compreender esse dasein  , o pensar do dasein tem de colocar-se dentro do seu sentido-de-realização. É isso que Heidegger quer dizer com a citada formulação no manuscrito de Aristóteles: o apreender explícito de uma motilidade fundamental do dasein fáctico.

A essa motilidade fundamental Heidegger chama pela primeira vez com acento enfático: existência (Existenz  ).

Uma coisa "existe" - com isso em geral compreendemos: suspeitamos o estar-presente (Vorhandensein  ) de alguma coisa e se depois descobrimos que o suspeitado existe, dizemos: realmente existe. Baseado em cálculos, Galileu   assumiu que deveria existir uma lua de Júpiter e depois com ajuda do telescópio descobriu que essa lua de Júpiter "existe". Mas exatamente esse significado do existir no sentido de "estar efetivamente presente" é o que Heidegger quer excluir. Ele utiliza o termo em seu sentido transitivo: existindo eu não estou simplesmente existente (vorhanden), mas preciso me existir; eu não apenas vivo, mas preciso "conduzir" (führen  ) a minha vida. Existência é um modo-de-ser, e é o ser acessível para si mesmo (DJ, 245). Existência é um ente numa relação consigo mesmo, diferente de pedras, plantas e animais. Ele não apenas "é", mas toma consciência de que é "aí" (da ist). E só porque existe essa autoconsciência, pode-se abrir todo o horizonte da preocupação e do tempo. Portanto, existir não é um estar-presente mas uma realização, um movimento. Uma carta de 1921 a Karl Löwith   mostra o quanto essa noção movia o próprio Heidegger. Nela, ele diz: eu faço pura e simplesmente o que tenho de fazer e que julgo necessário, e faço-o assim como posso - não enfeito meu trabalho filosófico com tarefas culturais para um hoje generalizado… Trabalho partindo do meu eu sou e minha origem espiritual, aliás fáctica. Com essa facticidade o existir se desencadeia.

O sentido-de-realização do dasein é o recém-descrito existir no sentido transitivo, ou, o que significa a mesma coisa, vida fáctica como vida que se preocupa e se aflige, que se projeta no tempo. O dasein humano só é compreensível a partir do seu sentido-de-realização, mas não quando o coloco diante de mim como um objeto presente. (excertos de Rüdiger Safranski  , Heidegger)


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