Quem suporta realmente esse “pensamento”? O que são os suportes da história, em cujo pensamento devemos penetrar? O que um homem persegue com sua ação será a intenção determinada? Collingwood parece pensar assim: “Sem esse pressuposto, a história de seus atos não é possível” (324). Mas será que reconstruir as intenções significa realmente compreender a história? Vemos [397] assim como Collingwood se enreda, contra sua vontade, na particularidade psicológica. Sem uma teoria dos “que sustentam o negócio do espírito universal”, isto é, sem Hegel, ele não encontrará saída. VERDADE E METODO II ANEXOS 27.
E claro que ele não irá gostar muito de ouvir isso, pois toda metafísica da história, e mesmo a de Hegel, segundo ele não passaria de um sistema classificatório (276), sem valor de verdade propriamente histórico. Por outro lado, não ficou claro para mim como a sua tese de um historicismo radical se conecta e concorda com sua teoria do re-enactment, uma vez que também considera, e creio que com razão, que o próprio historiador é parte do processo histórico que está pesquisando e que só pode observar esse processo a partir do posto que ele próprio ocupa (260). Como é que se pode conciliar isso com a defesa da reprodução de um “pensamento” da tradição, que Collingwood ilustra no exemplo da crítica ao sensualismo, no Teeteto de Platão? Temo que o exemplo seja falso e demonstre exatamente o contrário. VERDADE E METODO II ANEXOS 27.
No Teeteto, quando Platão apresenta a tese de que o conhecimento é exclusivamente percepção sensível, seguindo a Collingwood, como leitor atual, não consigo reconhecer o contexto que o levou a essa tese. No meu modo de pensar, creio que o contexto para isso é outro: a discussão gerada pelo sensualismo moderno. Essa idéia também não sofre nenhum prejuízo pelo fato de tratar-se de um “pensamento”. Um pensamento pode ser inserido em diversos contextos sem perder sua identidade (315). Gostaríamos de lembrar a Collingwood, aqui, a crítica à discussão sobre o statement de Oxford, em sua própria “Logic of Question and answer”. Creio, na verdade, que só será possível a reprodução do pensamento de Platão, quando se tiver compreendido o verdadeiro contexto platônico (o de uma teoria matemática da evidencia, que pelo que me consta ainda não tem total clareza sobre o modo de ser inteligível do matemático). Será possível compreendermos esse contexto se não suspendermos expressamente os preconceitos do sensualismo moderno? VERDADE E METODO II ANEXOS 27.