Nada nos constrange a desistir, por tão óbvia que é, de pensar na extrema complexidade da religião grega. Nem é de estranhar que o seja, onde não existe teologia salvaguardada por uma tradição expressa em documentos escritos, expurgados de toda e qualquer excessividade agressiva, de encontro a um só «Corpo Místico». Na Grécia, nunca houve uma fé, porque esta pressupõe a liberdade de crer ou não crer, liberdade responsável perante um pensar coerente, do sacerdócio de um Deus único, com (…)
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Eudoro de Sousa
EUDORO DE SOUSA (1911-1987)
SOUSA, Eudoro de. Horizonte e Complementariedade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2002; Mitologia - História e Mito. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2004.
Matérias
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Eudoro de Sousa (HCSM:196-203) – A Religião Grega
9 de outubro de 2021 -
Eudoro de Sousa (HCSM:69-73) – Tales de Mileto
9 de outubro de 2021[Eudoro de Sousa. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 69-73]
A filosofia, na Grécia, tem por certidão de nascimento um texto de Aristóteles repetidamente citado e minuciosamente comentado (Met., I, 3, 983 b 6 e segs.): «a maioria dos primeiros filósofos, acreditaram que os únicos princípios (arkhas) de todas as coisas (hapanta tà ónta) são os de índole material; pois aquilo de que constam todos os entes e é a primeira origem da sua geração (…) -
Eudoro de Sousa (MHM:344-347) – Grécia
2 de fevereiro de 2022DE SOUSA, Eudoro. Mitologia História e Mito. Lisboa: Imprensa Nacional, 2004, p. 344-347
Da Grécia, que é o privilegiado «lugar» em que historicamente se defrontam, pela primeira vez, a presença do presente e a presença do passado, há uma história tão densa e extensa, que o acontecido, então, houve que reparti-lo pelas suas projeções num sistema de coordenadas, cujos planos funcionais são constituídos por todas as disciplinas em que se repartem as nossas ciências humanas e por algumas (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:114-115) – noûs, dianoia, pistis, eikasia
9 de outubro de 2021[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 114-115]
RESUMO DE REPÚBLICA VI, apenas de 508a-511e
66. «Imagina, por exemplo, uma linha seccionada em duas partes, em dois segmentos desiguais; secciona novamente, segundo a mesma razão, cada um dos dois segmentos, o do gênero visível e o do gênero inteligível. Assim considerada uma relação recíproca de claridade e de obscuridade, obterás no visível o teu segundo segmento, as (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:188-190) – Deus, Homem, Natureza: não-personagens da mitologia
8 de outubro de 2021[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 188-190]
Se, na verdade alvorece uma época que se há-de caracterizar pela renúncia ao Mito do Homem criador, e não «receptor de cultura», que aceita sem constrangimento o mundo que lhe é dado, os que sempre lhe foram dados por Fulgurações Ofuscantes, temos de admitir a contragosto da nossa incondicionada e incondicionável «vontade de poder», que o transobjectivo, o eminentemente Real (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:214-219) – mitologia, mito, mítico
8 de outubro de 2021[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 214-219]
Não que faltem manuais, tratados, dicionários ou enciclopédias especializadas, expondo de maneira mais ou menos resumida ou de modo excessivamente minucioso, o que se deva entender por tal palavra [mitologia]. Mas não há leitor que não perca o pé nesse oceano de erudição (nós o perdemos, lendo o artigo «Zagreus» que W. Fauth escreveu para a REI), ao bem atentar em «histórias» (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:192-195) – Física dos Pré-Socráticos
16 de setembro de 2021[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 192-195]
Assinalemos na literatura historiográfica os seguintes pontos: 1) para os antigos, todos os pré-socráticos são físicos, isto é, todos teriam escrito livros «acerca da natureza» (peri physeós); 2) quando Aristóteles afirma que a doutrina física de Tales de certo modo depende dos theológoi, quer dizer, daqueles que filosofaram «tomando a Noite como ponto de partida» (arkhê), é (…) -
Eudoro de Sousa (MHM:85-86) – «eu» e Absoluto
12 de dezembro de 2021DE SOUSA, Eudoro. Mitologia História e Mito. Lisboa: Imprensa Nacional, 2004, p. 85-86
63. Eloquentíssimo na sua mudez é o facto de tão pouco como nada poder falar da minha subjetividade irredutível, quanto, por consabida necessidade, de Deus não posso falar. Por aqui, não identifico, note-se bem, «eu» e Absoluto; denuncio uma analogia: para aquém-horizonte, eu não sou nada do que o «mim mesmo» é, pois tenho que negar dele tudo quanto afirmo de «mim». O Absoluto ou Separado é-o, por (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:181-184) – falácia da fórmula "do mito ao logos"
8 de outubro de 2021[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 181-184]
Não obstante a fortuna que ganhou o pensamento implícito na fórmula «Do Mito ao Logos» (como se sabe, este é o título de um célebre trabalho de Wilhelm Nestle, que o mais sucintamente designava os primórdios do processo evolutivo do pensamento europeu) [181], da mitologia para a filosofia, ainda ninguém conseguiu ver distintamente o caminho recto ou sinuoso e, portanto, (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:115-118) – Mito da Caverna
9 de outubro de 2021[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 115-118]
RESUMO DE REPÚBLICA VII apenas de 514a-517a
67. «Agora afigura-te a condição da nossa própria natureza, quanto à relação entre cultura e incultura, da maneira que vai seguir. Representa-te homens que vivem numa espécie de morada subterrânea, em forma de caverna, que tem, em toda a sua largura, uma entrada que abre para a luz do dia; no interior desta morada, desde a (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:31-33) – Horizonte
8 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 31-33]
1. Conhecimentos geográficos e astronômicos, acumulados e sedimentados durante mais de vinte séculos de reflexão filosófica e investigação científica, já não nos permitem a vivência primordial do horizonte: por de mais sabemos que a esfera é o estereograma da realidade que se ocultava sob a aparência dos distantes confins do céu e da terra. Mas teriam ficado definitivamente (…) -
Eudoro de Sousa (SMM) – Sacrifício
26 de setembro de 2022Sacrifício autêntico é, pois, o de um deus que cria homens e natureza, quando, assassinado por outros deuses, naqueles se transforma. Também, verdadeiro mito é só o relato do deicídio primordial e da transformação que não deixa subsistir, longe ou perto do transformado, a «personalidade» que pela morte se transformou. Depois desta, uma ressurreição é «expediente», uma astuciosa intromissão teística, que se constitui em um dos factores predominantes do politeísmo. De um deus otiosus, causa (…)
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Eudoro de Sousa (HCSM:79-84) – Xenófanes
9 de outubro de 2021[Eudoro de Sousa. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 79-84]
42. Não nos move, nem de leve, o intuito de escrever uma história, ainda que parcelar, da filosofia grega. Mas, a fim de [79] restabelecer o paralelismo (ou, talvez, a convergência) da codificação mítica e da codificação lógica do mistério do horizonte, que, vê-lo-emos em breve, Parménides revelou o quanto pôde, há pelo menos dois nomes que não devem ser omitidos, se quisermos (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:110-112) – mundo é uma caverna
9 de outubro de 2021[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 110-112]
64. Para o daimon de Empédocles, o mundo é uma caverna: já acenamos para a novidade da cifra, na codificação filosófica do mistério do horizonte. Mas a Caverna passa por ser o mais notável e a mais notada «ilustração» da gnosiologia platônica. Já lemos copiosas páginas (por exemplo, Zepf; cf. A. J. Festugière, La révélation d’Hermes Trismégiste, vol. II, «Le Dieu Cosmique», (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:166-167) – teoria dramática do conhecimento
7 de novembro de 2021Eudoro de Sousa. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 166-167
5.a V. fala da necessidade de construir-se uma teoria dramática do conhecimento. Que o levou a senti-la? 7.a Haverá espaço para a filosofia fora do círculo definido pelo mito seu conatural, o «mito do Homem», como V. o chama?
5.a e 7.a Eu não falo na necessidade de construir-se uma teoria dramática do conhecimento. Ou, se falo, mais uma vez me apressei demasiadamente; só digo (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:76-78) – Doxografia do Primeiro Princípio
16 de setembro de 2021[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 76-78]
Mas, com olhos desatentos a esse esquema, bem poderia surgir uma dúvida fatal à interpretação doxográfica: bastaria perguntar, com afincado interesse em obter uma resposta satisfatória, se o problema mais importante para a escola de Mileto de algum modo se identifica com o de Aristóteles. Este, ao que mais provável parece, seria o do movimento, nas várias acepções que a palavra (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:125-142) – Heráclito
10 de outubro de 2021[Eudoro de Sousa. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 125-142]
72. Deixamos Heráclito para o fim, por duas razões que, de algum modo, sem sabermos por ora quais sejam, devem andar estreitamente correlacionadas. A primeira é que o filósofo não tem lugar na «história» da filosofia grega, se por tal entendemos o desenvolvimento do que se chama «filosofia», em qualquer direcção bem definida a partir de problemas enunciados, de Tales de Mileto (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:191-192) – mundo mitológico e mundo de homem-natureza
8 de outubro de 2021[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 191-192]
Que relação haverá entre o mundo mitológico (com tudo o que ele contém, ou continha, num horizonte aparentemente perdido) e o mundo em que existe Deus, o Homem e a Natureza? Esta era a segunda pergunta.
O mundo em que nós vivemos e, sobretudo, aquele que nós pensamos, não parece que ainda seja o mundo da mitologia (a não ser que contemos com aquele que a alguns é dado (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:85-90) – antigo xamanismo grego e as duas almas
9 de outubro de 2021[Eudoro de Sousa. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 85-90]
46. «Nas páginas seguintes, ocupar-nos-á a questão de averiguar o papel que a alma tem desempenhado nas ideias acerca da existência após a morte. Procuraremos mostrar que, da variedade dos relatos colhidos pelos etnólogos, se destacam dois círculos de representações, cada um dos quais reflecte um conceito fundamental, inteiramente diverso do outro. Em primeiro lugar, há que (…) -
Eudoro de Sousa (HCSM:118-123) – interpretação da República VI e VII (504d-517c)
9 de outubro de 2021[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 118-123]
REPÚBLICA VI e REPÚBLICA VII
68. Só para desentranhar todas as implicações destas poucas páginas da República, necessário seria escrever um livro inteiro. Supondo que não nos tenhamos omitido de ler com a devida atenção nenhum dos mais importantes comentários que constam da bibliografia especializada, digamos, para começar, que só nos ocorre uma excepção (Fergusson) ao (…)