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Auxenfants: Verständnis
segunda-feira 30 de março de 2020
nossa tradução
Eis que aparece um termo fundamental. Para a inteligência do texto, é importante limitá-lo agora. O próprio Heidegger se expressou (em particular no § 31) sobre o significado específico que atribui a essa palavra [Verständnis] na maioria dos casos em que ela aparece em Sein und Zeit , a saber, a de uma compreensão do ser [Seinsverständnis], ou melhor, uma pré-compreensão, sempre já presente e inerente à essência do Dasein. Em todos esses casos, o termo "compreensão" não tem uso epistemológico, nem pertence a nenhuma teoria do conhecimento; não designa uma certa modalidade de inteligência ou explicação, mas designa o que torna possível todas as modalidades de entendimento. Em outras palavras, como veremos, a compreensão é um "poder-e-saber-fazer", uma projeção. Nesse contexto, não está fora de lugar citar Françoise Dastur (FD2, página 148): “Porque é por essa inclusão na natureza que o coloca no meio dos entes e o dedica fundamentalmente a eles que o Dasein pode ’compreender’ (verstehen), ou seja, fazê-los se levantar e trazê-los para a estança (ver-stehen), tomá-los por verdadeiros (wahr-nehmen), percebê-los como tais e assim deixá-los ser o que são, o que implica que o horizonte de seu possível encontro sempre foi projetado. E comentar em nota 5 da mesma página o verbo composto (ver-stehen): "Verstehen deriva de stehen e, portanto, pertence a uma área semântica diferente daquela do "entendimento" francês ou da inteligência latina. O próprio Heidegger coloca esse termo em relação ao episteme grego, cujo primeiro significado é o de permanecer e habitar (istemi) próximo (epi) do ente".
De maneira geral, e terei a oportunidade de repeti-lo, a análise que Heidegger conduz de maneira transcendental (no sentido kantiano do termo), aquela das condições de possibilidade, continuamente se depara com a questão que está inevitavelmente subjacente: Qual é a condição de possibilidade disto que a análise toma como condição de possibilidade? Neste nível, e a observação é obviamente muito esquemática, surge que toda a abordagem de Heidegger parece ser habitada pela obsessão da remontada de um degrau a montante das ditas "clássicas" condições de possibilidade. O que, afinal, se mascara à toda experiência? Em outras palavras, o que está subjacente é o que mais tarde se tornará o recolhimento do ser, enquanto radicalização do transcendentalismo kantiano. E o que faz Heidegger senão remontar um degrau submetendo o transcendental kantiano à experiência fenomenológica? O primeiro exemplo é dado aqui com sua visão da compreensão (a qual quer se situar, em fundando-as, a montante da intuição e do entendimento kantiano - cf. parágrafo 15 do § 31, página [147] ); a segunda virá, na segunda seção, com a temporalidade, uma experiência fenomenológica, agostiniana, do tempo. Para não falar do resto de sua obra, a qual não fará senão perseguir implacavelmente a mesma remontada.
Original
Voilà qu’apparaît déjà un terme fondamental. Pour l’intelligence du texte, il importe de le circonscrire dès maintenant. Heidegger s’est lui-même exprimé (notamment au § 31) sur le sens spécifique qu’il donne à ce mot dans la plupart des cas où il apparaît dans Sein und Zeit , à savoir celui d’une compréhension de l’Être, ou plutôt d’une pré-compréhension, toujours déjà là et inhérente à l’essence du Dasein. Dans tous ces cas, le terme « compréhension », ni n’a un usage épistémologique, ni ne relève d’une quelconque théorie de la connaissance ; il ne désigne pas une certaine modalité de l’intellection ou de l’explication, mais il désigne ce qui rend possible toutes les modalités de la compréhension. Autrement dit, on le verra, la compréhension est un ‘pouvoir-et-savoir-être’, une projection. Dans ce contexte, il n’est pas déplacé de citer Francoise Dastur (FD2, page 148) : « Car c’est par cette inclusion dans la nature qui le place au milieu des étants et le voue foncièrement à eux que le Dasein peut les ‘comprendre’ (verstehen), c’est-à-dire les faire tenir debout et les amener à la stance (ver-stehen), les prendre pour vrais (wahr-nehmen), les percevoir comme tels et ainsi les laisser être ce qu’ils sont, ce qui implique que l’horizon de leur rencontre possible a toujours déjà été projeté. » Et de commenter en note 5 de la même page le verbe composé (ver-stehen) : « Verstehen dérive de stehen et appartient donc à une aire sémantique différente de celle de l’« entendement » français ou de l’intelligere latin. Heidegger met lui-même ce terme en rapport avec l’epistèmè grecque, dont le sens premier est celui d’un se tenir et demeurer (istémi) auprès (epi) de l’étant. »
De manière générale, et j’aurai l’occasion de le répéter, l’analyse que conduit Heidegger de façon transcendantale (au sens kantien du terme), celle des conditions de possibilité, bute continuellement sur la question qui lui est inévitablement sous-jacente : Quelle est la condition de possibilité de ce que l’analyse prend pour condition de possibilité ? Sur ce plan, et la remarque est bien sûr très schématique, il apparaît que toute la démarche de Heidegger semble habitée par l’obsession de la remontée d’un cran en amont desdites conditions de possibilité « classiques ». Qu’est-ce qui, au final se dérobe à toute expérience ? Autrement dit, ce qui est sous-jacent, c’est ce qui deviendra plus tard le retrait de l’Être, en tant que radicalisation du transcendantalisme kantien. Et que fait d’autre Heidegger que remonter d’un cran en soumettant le transcendantal kantien à l’expérience phénoménologique ? Le premier exemple en est donné ici-même avec sa vision de la compréhension (laquelle veut se situer, en les fondant, en amont de l’intuition et de l’entendement kantien – cf. alinéa 15 du § 31, page [147]) ; le second viendra, dans la seconde section, avec la temporalité, expérience phénoménologique, augustinienne, du temps. Pour ne rien dire de la suite de son œuvre, laquelle ne fera que poursuivre avec acharnement la même remontée.
Ver online : L’Être et le temps (tr. Auxenfants)