A linguagem chama, por exemplo, de liberdade o que caracteriza e distingue o “livre” como tal, o que se distingue enquanto [71] um livre. O que relaciona o ser-justo com o justo é a justiça. Consequentemente, deveríamos dizer, mesmo fazendo estremecer o ouvido comum, que aquilo que caracteriza o ente como tal é a “entidade”.
Esta palavra é, no entanto, apenas a tradução literal da palavra grega ousia, que os romanos traduziram por “substância”, falseando-lhe o significado. No sentido de Aristóteles, o pensador procura aquilo que é o ser dos entes, isto é, a entidade. Por isso, Aristóteles esclarece a palavra citada anteriormente mostrando que o que sempre se procura, e sempre de novo se coloca em questão, é tí tò ón. Com o que acrescenta em seguida, esclarece que toutó esti tis he ousia, “isso, a saber, o que se procura nos entes é, para nós, a entidade”. Α ousia, o ser, é aquilo a partir de onde cada ente surge como tal. É a proveniência dos entes, genos. É assim que Platão e Aristóteles caracterizam o ser em relação ao ente. Porque o ser é a proveniência graças à qual o ente é, como tal, o ser em relação a cada ente é, para Platão e Aristóteles, tò koinon – o comum, o em conjunto, katholou, isto é, o que toca a totalidade e, sobretudo, cada ente. [GA55MSC:71-72]