Affekt

Affekt, Affekte, Affektion, afeto, affect, afecto, affection, afecção, afección, Befindlichkeit, disposibilité, disposição, encontrar-se, sentimento-de-situação, attunement, disposedness, disposition, entender-de.

Como ouvir a palavra alemã Affekt? Não é ela transposta do latim affectus que Agostinho formou sobre o verbo afficere que significa estar voltado para uma disposição, ser afetado e, assim, sofrer algo que faz impressão? É com o intuito de romper com o ideal estoico de apatia que confina a uma insensibilidade arrogante que o pensador cristão substituiu passio por affectus, até mesmo por perturbatio, termos ciceronianos de conotação negativa. No pensamento filosófico moderno, foi Kant, antes que a psicologia filosófica do século XIX dele se amparasse, quem deixou sua marca na palavra. Em Antropologia do ponto de vista pragmático, Kant escreve: “Existem afetos (Affekte) quando alguém fica completamente surpreso com o que sente” (§ 74). O afeto é então o que torna a reflexão impossível e, enquanto a paixão (Leidenschaft) se dá tempo, o afeto “age como a água que rompe o dique”. Assim entendido, o afeto é reduzido a um distúrbio “patológico”, é o “estado de espírito de um sujeito” cuja conduta é estupefata, como na vergonha, ou desorganizada, como na raiva. A reabilitação ontológica dos fenômenos da chamada existência dita “afetiva” afasta Heidegger da psicologia e de seu vocabulário. Ele escreve em Os conceitos fundamentais da metafísica. Mundo – finitude – solidão:

Desde o início, a psicologia sempre fez distinção entre pensar, querer e sentir. Não é por acaso que ela nomeia o fato de sentir em terceiro, em posição subordinada. Sentimentos (Gefühle) formam a terceira classe de experiência vivida. Porque, é claro, o homem é antes de tudo um ser vivente razoável (GA29 / 30, 96).

O que o Dasein sente, ele dele também tem um entendimento imediato. É nisso que a adição de um corpo reduzido ao somático e de uma razão não pode constituir um ser humano. O que é experimentado não é um evento intrapsíquico nem uma manifestação somática, mas, unitariamente, o que abre o Dasein em seu ser-lançado ao que o concerne e o dispõe: ao mundo que o circunda, ao comércio com os outros, a ele mesmo também. É sobretudo em referência às “paixões da alma”, ao pathemata tès psyches, de Aristóteles (Retórica II, 5) que traçam os contornos de uma hermenêutica do estar em companhia que Heidegger conduz a sua análise das tonalidades e afetos.

É por isso que Affekt se entende a partir da reinterpretação do pathos aristotélico em estreita proximidade à tonalidade (Stimmung). Mas não é unicamente para fazer uma concessão à psicologia filosófica que Heidegger não revoga o termo. Enquanto a tonalidade submerge o Dasein, o afeto (ad-facio) parece estar voltado para seu “a propósito” encontrado na modalidade do “diante-quê” do medo, da revolta, da cólera ou da esperança, etc. O afeto é, portanto, a tonalidade considerada sob o ângulo de sua estrutura intencional. (LDMH, p. 36)


O próprio termo afeto é desastroso. Af-ficere – fazer algo a alguém. O prazer não me é feito, mas esta afinação faz parte de meu relacionamento ekstático, de meu ser-no-mundo. (GA89:210; tr. Arnhold & Almeida Prado)


VIDE: (Affektion->http://hyperlexikon.hyperlogos.info/modules/lexikon/search.php?option=1&term=Affektion)

affect (EtreTemps)
affect (BT)
afecto

NT: Affect, Affection (Affekt, Affektion, affizieren, etc.), 94, 137-139, 142, 341, 345-346. See also Attunement; Mood (BT)


AFETO (Affekt).

A disposição do ser-aí torna possível para o ser-aí estar ser tocado por algo que mostra a si mesmo em um afeto. Nossos afetos e sentimentos revelam como somos dispostos na vida diária. (HDHP)