sein-lassen

NT: os tradutores franceses, Alphonse de Waelhens e Walter Biemel traduzem sein-lassen, reconhecendo o duplo sentido sentido do alemão de deixar-ser (admitir a ser) e de deixar no sentido de abandonar.


Bewendenlassen é um tipo de “sein”-lassen, “deixar-’ser’” (SZ, 354; cf. 84s). Mas deixar-ser aplica-se a todos os entes, não apenas aos manuais, como Heidegger explica numa nota tardia: “Das Seyn-lassen (’deixar-ser’ ou ‘deixar-Ser’). Cf. EV, onde deixar-ser (Sein-Iassen) aplica-se fundamentalmente e irrestritamente a todo ente!” (SZ, 441 ad 84). Deixar as coisas serem é necessário se quisermos compartilhá-las. Se você e eu devemos perceber o mesmo pedaço de giz, eu posso usar o giz, mas não posso enxergá-lo como mera função de minhas próprias percepções e propósitos, nem talvez eu possa “moê-lo em um pilão” (GA27, 102). Possuímos uma “indiferença metafísica em relação às coisas”, fundada em nossa liberdade (GA27, 103). Diferimos dos insetos, que estão “conscientes” das coisas apenas à medida que se chocam diretamente com elas e assumem a partir disso, um comportamento apropriado (GA29, 368, 397ss). Há modos especializados de deixar-ser: o cientista “dá um passo atrás” das coisas, considerando o que é zuhanden como vorhanden, um arado como um corpo material (GA27, 183s). Seinlassen normalmente significa “deixar em paz, soltar, parar de fazer”. Mas o sein-lassen de Heidegger envolve Sicheinlassen, “entrar, engajar-se em, estar envolvido com” entes (EV, 185/125). Abrimos um espaço no qual entes podem ser eles mesmos. Entramos neste espaço aberto e lá nos envolvemos com entes enquanto entes, como entidades independentes que não são meros apêndices de nós mesmos. A liberdade nos dá a possibilidade de abrir o espaço (verdade) e de deixar os entes serem. Lá exercitamos nossa liberdade de fazer escolhas e asserções “corretas” que são guiadas, mas não forçadas, pelos entes (EV, 185ss/124ss cf. GA31, 303). (DH)