Que é “propriamente” saber o que é conhecimento, sem que eu possa dizê-lo ? Este saber é estar na presença do homem cognoscente que sou. Conheço árvores, casas, pessoas, mas é como se nisso “deixasse” em primeira instância meu próprio conhecimento. Quando um psicólogo procura conhecer o semelhante que se volta a ele, o homem é o tema de seu conhecimento. Diz, p. ex., que se trata de um introvertido, emocional e inteligente, ou que sofre de uma incipiente esquizofrenia. Assim exprime o termo de encontro de seu conhecimento, mas “passa por cima” de seu próprio conhecimento e de todos os passos dados para chegar a seus juízos, não exprimindo nada disso. Contudo, o psicólogo “sabe” o que é conhecimento psicológico e como se forma seu juízo, pois que é capaz de efetuar tal conhecimento e tais juízos. Está presente ao conhecedor que ele mesmo é, e por isso também se torna possível teorizar os próprios conhecimentos e juízos.
O mesmo se pode dizer de inúmeras outras situações. Quando conto os cigarros em meu maço, exprimo o termo de encontro de meu contar, ao dizer: “são doze”. “Deixei de lado”, entretanto, meu contar; não o exprimi de maneira alguma; não foi o tema de minha ocupação. Apesar disso, sei o que é contar, visto que estou presente a meu próprio contar.
Se alguém então me perguntar o que estou fazendo, responderei imediatamente: “estou contando”. Nesse momento, porém, o tema de meu conhecimento não são mais os cigarros, mas é o próprio contar. Estou presente a meu próprio contar, mas assim que alguém me pergunta o que estou fazendo, coloco-me explicitamente na presença desse contar e exprimo-o.
{[LUIJPEN, Wilhelmus Antonius Maria. Introdução à fenomenologia existencial. Tr. Carlos Lopes de Mattos. São Paulo: EDUSP, 1973]}