Zimmerman (1990) – Jünger e a Gestalt do Trabalhador

Embora em sua concepção de tecnologia moderna Heidegger devesse mais a Ernst Jünger do que a qualquer outra pessoa, as opiniões de ambos eram consistentes com as de alguns outros membros da “revolução conservadora”. Eles concordavam que a tecnologia não podia ser entendida em termos de categorias sociais, políticas ou econômicas; em vez disso, as estruturas socioeconômicas da modernidade, incluindo as grandes indústrias e a guerra mecânica, eram as manifestações empíricas daquilo que transcende o reino causal-material. Sob a influência de Nietzsche, Jünger concebeu a tecnologia moderna como a mais recente manifestação da eterna, porém oculta, Vontade de Poder. A essência da tecnologia, portanto, não era nada mecânico ou técnico; em vez disso, o mundo era mobilizado em termos tecnológicos porque a própria humanidade havia se tornado o principal instrumento necessário para realizar a última fase histórica da Vontade de Poder. Da mesma forma, Heidegger concluiu que a essência da tecnologia era a revelação de todas as entidades como reserva permanente para aprimorar a pura Vontade de Vontade.

Tanto Jünger quanto Heidegger se consideravam escolhidos para examinar abaixo da superfície material dos eventos o domínio elementar-espiritual. Jünger retratou o processo titânico da tecnologia moderna como um fenômeno estético, como um espetáculo aterrorizante, mas sublime, que estava “além do bem e do mal”. Refratando a tecnologia pelo prisma das categorias literárias e estéticas, ele explicou a realidade socioeconômica em termos de símbolos míticos de um poder sobrenatural e irracional. Heidegger também afirmou ter descoberto uma relação íntima entre tecnologia e arte: a tecnologia, assim como a arte, era uma forma de revelar o ser das entidades. Além disso, assim como a obra de arte, a tecnologia moderna não podia ser concebida em termos pragmáticos ou propositais; em vez disso, a tecnologia era aquele modo de revelação impulsionado pela pura Vontade de Vontade, por uma Vontade que não desejava nenhum objetivo, exceto sua própria expansão. No final da década de 1930, Heidegger começou a concluir que as previsões de Jünger sobre o futuro tecnológico eram precisas e inevitáveis. Paradoxalmente, Heidegger acreditava que ir além do niilismo e da violência trazidos pela tecnologia moderna só era possível com a condição de que a humanidade primeiro se submetesse à reivindicação da tecnologia moderna.

No entanto, apesar da extensão de sua dívida com a visão de tecnologia de Jünger e de sua simpatia pelo vocabulário político de Jünger, Heidegger o via como um primitivo filosófico, cujo relato da tecnologia tinha de ser reinterpretado à luz das categorias ontológicas de Heidegger. A seguir, apresento um esboço dos primeiros escritos de Jünger que foram influentes no pensamento de Heidegger. Nos capítulos cinco e seis, explico como Heidegger se apropriou das ideias de Jünger.

[ZIMMERMAN, Michael E. Heidegger’s Confrontation with Modernity. Technology, Politics, Art. Bloomington: Indiana University Press, 1990]