GA6T1:332 – ciência alguma pode enunciar sobre si por seus próprios meios científicos

Em verdade, a ciência da natureza 1 faz uso necessariamente de uma determinada representação das noções de força, movimento, espaço e tempo. No entanto, ela nunca pode dizer o que são a força, o movimento, o espaço e o tempo porque não pode perguntar por eles enquanto se mantém ciência da natureza e não realiza inopinadamente a passagem para o interior da filosofia. O fato de os conceitos fundamentais de uma ciência e o que esses conceitos concebem permanecer inacessível a toda ciência enquanto tal, isto é, a toda ciência enquanto a ciência que ela é, está em conexão direta com o fato de nenhuma ciência jamais poder enunciar algo sobre si com o auxílio dos seus próprios meios científicos. O que é a matemática nunca pode ser determinado matematicamente; o que é a filologia nunca pode ser discutido filologicamente; o que é a biologia nunca pode ser dito biologicamente. A questão “o que é uma ciência?” já não é mais enquanto questão uma questão científica. No momento em que pergunta pela ciência em geral, o que sempre significa, ao mesmo tempo, por certas ciências possíveis em específico, aquele que questiona ganha um novo âmbito dotado de outras reinvindicações comprovatórias e de outras formas de comprovação que são tomadas por correntes nas ciências. Esse é o âmbito da filosofia. A filosofia não é afixada às ciências e edificada em um andar superior. Ao contrário, ela se acha no âmbito mais intrínseco da ciência, de modo que é válido dizer: uma simples ciência só é científica, ou seja, só se mostra como um saber autêntico para além da mera técnica, na medida em que é filosófica. A partir desse ponto pode-se avaliar o volume excessivo de contrassenso e de absurdidade que reside em uma aspiração por reformar supostamente as ciências e ao mesmo tempo suprimir a filosofia.

[HEIDEGGER, Martin. Nietzsche (volume único). Tr. Marco Antonio Casanova. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014, p. 260]
  1. ?Naturwissenschaft[]