valores

Para a interpretação moderna do ente, a noção de valor é tão essencial como a de sistema. Unicamente onde o ente se converteu em objeto do re-presentar se pode dizer, de algum modo, que o ente perde o seu ser. Esta perda se percebe de uma maneira tão pouco clara e tão indeterminada que rapidamente a incompreensão e a falta de percepção dessa perda aumentam. E isso se dá de uma tal modo e sempre renovadamente que ao objeto e ao ente interpretado como tal se os atribui um valor e, em geral, se mede o ente por valores e os próprios valores se convertem na meta de toda atividade. Dado que a atividade se compreende como cultura, os valores se convertem em valores culturais e, por sua vez, estes se convertem na expressão das supremas metas do criar que servem para um assegurar o homem como subjectum (v. sujeito). Daí falta já somente um passo para converter os próprios valores em objetos. O valor é a objetivação das metas das necessidades do instalar-se representador no mundo como imagem. O valor parece expressar que é precisamente na posição de relação com ele onde se leva a termo o mais valioso e, no entanto, o valor é justamente o impotente e o mal-feito disfarce de uma objetividade do ente que perdeu toda relevância e consistência. Ninguém morre por meros valores. Na hora de entender o século XIX resulta muito esclarecedora a posição particular intermediária mantida por Hermann Lotze, o qual reinterpretou as ideias de Platão como valores e, ao mesmo tempo, empreendeu sob o título Microcosmos o Ensaio de uma Antropologia. (1856), uma antropologia que sorve, não obstante, do espírito do Idealismo Alemão, contribuindo para alimentar sua nobreza e a simplicidade de seu modo de pensar, porém, ao mesmo tempo, se abre ao positivismo. Como o pensamento de Nietzsche permanece preso à ideia de valor, não resta para ele mais nenhum remédio a não ser o de explicar o mais essencial do mesmo de uma maneira regressiva enquanto inversão de todos os valores. Somente quando se consegue compreender o pensamento de Nietzsche com independência da noção de valor, chegamos ao ponto desde o qual a obra do último pensador da metafísica se converte em uma tarefa do questionar e a hostilidade de Nietzsche contra Wagner se compreende como uma necessidade de nossa história. [DZW]


[…] o que está em questão para Nietzsche é uma instauração de valores, é o estabelecimento do valor supremo segundo o qual e a partir do qual se determina como todo ente deve ser. O valor supremo é aquele do qual dependem todos os entes, porquanto eles são entes. Uma “nova” avaliação estabelece, com isso, um outro valor em contraposição ao antigo e decrépito, um valor que futuramente deve ser determinante. Por isso, uma crítica dos valores até aqui supremos se apresenta previamente no Livro II. O que se tem em vista nesse contexto por valores até aqui supremos é a religião, e, com efeito, a religião cristã, a moral e a filosofia. O modo de falar e de escrever de Nietzsche é frequentemente impreciso e conduz, muitas vezes, a incom-preensões; pois religião, moral e filosofia não são elas mesmas os valores supremos, mas sim os modos fundamentais de instauração e de imposição dos valores supremos. Somente por isso elas podem valer e ser instauradas mediatamente como “valores supremos”.

A crítica dos valores supremos até aqui não é simplesmente uma refutação dos mesmos como não verdadeiros. Ao contrário, ela aponta muito mais para a demonstração de sua origem a partir de posições que precisam afirmar justamente o que deve ser negado por meio dos valores instaurados. A crítica dos valores supremos até aqui significa com isso propriamente: a iluminação da origem questionável das instaurações de valor correspondentes e, com isso, a comprovação da questionabilidade desses valores mesmos. [N1]