No conhecimento filosófico, em contrapartida, com o primeiro passo começa uma TRANSFORMAÇÃO DO HOMEM que compreende, e, em verdade, não no sentido moral-“existenciário”, mas de acordo com o modo de ser do ser-aí. Isto quer dizer: a ligação com o seer e, antes disso sempre, com a verdade do seer transforma-se ao modo da transposição para o próprio ser-aí. Como no conhecimento filosófico tudo é a cada vez e ao mesmo tempo transposto extasiadamente – o ser humano em seu estar aprumado na verdade, essa verdade mesma e, com isto, a ligação com o seer – e como uma representação imediata de algo presente nunca é possível, o pensar da filosofia permanece estranho. [tr. Casanova; GA65: 5]
A TRANSFORMAÇÃO DO HOMEM visa aqui ao tornar-se outro de sua essência, na medida em que, na interpretação válida até aqui (animal rationale), essa essência permaneceu, em verdade, psicologicamente escondida e mal interpretada. A ligação com o ente chegou a ser até concomitantemente visada, mas não foi fundada e desdobrada como o fundamento da essência. Pois isto inclui formular de maneira questionadora a pergunta acerca da verdade do seer e “a metafísica”. No pensar da história do ser ganha pela primeira vez o espaço livre o poder essencial da niilidade e da inversão. [tr. Casanova; GA65: 41] [Fundação do ser-aí e as vias do abrigo da verdade] Deduzida desse âmbito e, por isso, pertencente a ele, a questão isolada acerca da “origem da obra de arte”. A máquina e a maquinação (técnica). A máquina, sua essência. O serviço, que ela exige, o desenraizamento que ela traz. “Indústria” (funcionamento); os trabalhadores de indústria, arrancados da terra natal e da história, transpostos para o ganho. Educação de máquinas; a maquinação e o negócio. Que TRANSFORMAÇÃO DO HOMEM se insere aqui? (Mundo – terra?) Maquinação e negócio. O grande número, o gigantesco, pura extensão, nivelamento e esvaziamento crescentes. A decadência necessária no kitsch e no inautêntico. [tr. Casanova; GA65: 247]
O que é feito agora da diferenciação entre ente e seer? Agora, nós a compreendemos como o primeiro plano metafisicamente concebido e, com isso, já mal interpretado de uma de-cisão, que é o seer mesmo (cf acima n. 2). Essa diferenciação não pode mais ser lida a partir do ente e em prosseguimento em direção à generalização isoladora de seu ser. Por isto, ela também não pode ser justificada, por exemplo, pelo aceno para o fato de que “nós” (quem?) precisamos compreender o ser, para que possamos experimentar um ente enquanto tal. Isso é, com efeito, correto, e o aceno para tanto pode servir a qualquer momento como uma primeira indicação do ser e da diferenciabilidade entre ente e seer, mas: o que resulta daqui, o que aqui já é pressuposto, o pensar metafísico da entidade, não pode subsistir enquanto o rasgo fundamental, no qual se deixariam conceber em termos da história do seer, em conformidade com o ser-aí, a essência do seer e de sua verdade em sua essenciação. Apesar disso, a transição não tem como ser preparada de outro modo senão pelo fato de que, nela, a coragem para o antigo (em termos do primeiro início) se faz valer e, assim, se busca de saída impelir esse antigo mesmo para além de si: o ente, o ser, o “sentido” (verdade) do ser (cf Ser e tempo). Desde o início, contudo, em meio a essa repetição mais originária, é preciso saber que ela exige uma completa TRANSFORMAÇÃO DO HOMEM no ser-aí e já alcançou por um salto tal transformação, uma vez que a verdade do seer, que deve se abrir, não trará outra coisa senão a essenciação mais originária do próprio seer. E isso significa: que tudo é transformado e que as veredas que ainda conduziam justamente ao seer precisam ser interrompidas, porque outro tempo-espaço é aberto por meio do seer, que torna necessária uma nova edificação e fundação do ente. Em parte alguma no ente, somente uma vez no seer, se volta em direção ao homem e aos deuses, a cada vez de maneira diversa, como uma tempestade, a suavidade do terrível na intimidade de todos os seres. É somente no seer que se essencia como a mais profunda abertura de seu fosso abissal o possível, de tal modo que é sob a forma do possível que o ser precisa ser pensado em primeiro lugar no pensar do outro início. (A metafísica, contudo, torna o “real e efetivo” enquanto ente ponto de partida e meta da determinação do ser). [tr. Casanova; GA65: 267]