O que nos leva a nomear juntos tempo e ser? Ser significa, desde a aurora do pensamento ocidental-europeu até hoje, o mesmo que presentar. De dentro do presentar e da presença fala o presente. Este constitui, segundo a representação corrente, a característica do tempo junto com o passado e o futuro. Ser enquanto presença é determinado pelo tempo. Já o fato de esta ser a situação bastaria para levar uma contínua inquietação ao interior do pensamento. A inquietação cresce tão logo nos pomos a caminho para meditar em que medida se dá esta determinação do ser através do tempo. MHeidegger: TEMPO E SER
Em que medida, isto é, porque, de que maneira e de onde fala no ser tal coisa como tempo? Cada tentativa de pensar satisfatoriamente a relação entre ser e tempo com o auxilio das representações usuais e aproximativas de tempo e ser embaraça-nos imediatamente numa rede inextricável de relações não pensadas em todo o seu alcance. Nomeamos o tempo quando dizemos: “Cada coisa tem seu tempo”. Isso quer dizer: cada coisa que sempre é a seu tempo, cada ente vem e vai em tempo oportuno e permanece por algum tempo, durante o tempo que lhe é concedido. Cada coisa tem seu próprio tempo. MHeidegger: TEMPO E SER
Tempo – uma questão; provavelmente a questão do pensamento, se efetivamente algo tal como tempo fala no ser como pre-sença: Ser e tempo, tempo e ser nomeiam a relação de ambas as questões, o estado de coisas que mantém unidas entre si ambas as questões e sustenta sua relação. Meditar sobre este estado de coisas é tarefa do pensamento; isto na hipótese de que este permaneça disposto a perseverar na meditação de sua questão. MHeidegger: TEMPO E SER
Seguimos esta conjetura e meditamos sobre o tempo. “Tempo” do mesmo modo que “ser”, nos é conhecido através de representações correntes, mas também, do mesmo modo, desconhecido, tão logo empreendamos a discussão do que é próprio ao tempo. Enquanto, há pouco, meditávamos sobre o ser, mostrou-se: aquilo que é próprio do ser, aquilo a que pertence e onde está contido, mostra-se no dá-Se e seu dar, como destinar. 0 próprio do ser nada tem de caráter ôntico. Se meditarmos realmente sobre o ser, nesse caso o objeto mesmo nos afasta, de certo modo, do ser e passamos a pensar no destino que dá ser como dom. Na medida em que atentamos a isto, preparamo-nos para o fato de que também o que é próprio do tempo não se deixa já determinar com o auxílio da característica corrente do tempo, comumente representada. A justaposição de tempo e ser contém, não obstante, a indicação para discutir o tempo no que lhe é próprio, com os olhos voltados para o que foi dito sobre o ser. Ser quer dizer: pre-s-entar, presenti-ficar, pre-s-ença. Lemos, por exemplo, em algum lugar, a comunicação: “Com a presença de muitos convivas celebrou-se a festa”. A frase também poderia ser enunciada: “Com a participação” ou “estando presentes” numerosos convivas. MHeidegger: TEMPO E SER
No destinar do destino do ser, no alcançar do tempo, mostra-se um apropriar-se trans-propriar-se, do ser como presença e do tempo como âmbito do aberto, no interior daquilo que lhes é próprio. Aquilo que determina a ambos, tempo e ser, o lugar que lhes é próprio, denominamos: das Ereignis (o acontecimento-apropriação). O que nomeia esta palavra, somente podemos pensar agora a partir daquilo que se manifesta na vista prévia sobre ser e sobre tempo como destino e como alcançar, onde é o lugar de tempo e ser. A ambos, tanto ser como tempo, denominamos questões. O “e” entre ambos deixou sua relação recíproca no indeterminado. MHeidegger: TEMPO E SER