Tag: perceptio

  • Assim, antes de mais, a experiência do corpo próprio, que revela uma abertura irredutível do sujeito ao mundo, um enraizamento da consciência que não poderia ser enraizamento para a consciência, dá lugar a dois tipos de formulação. Por um lado, o corpo é colocado em primeiro plano e a sua descrição permite sublinhar a irredutibilidade…

  • É com a ajuda da noção de cogito tácito que Merleau-Ponty tenta, na terceira parte da Fenomenologia da Percepção, apreender o verdadeiro sentido do ser-no-mundo. Contra a redução intelectualista do mundo a um puro objeto, Merleau-Ponty tenta trazer à luz a figura irredutível do percebido: o fato originário é que “alguma coisa se mostra, há…

  • E a questão da natureza do aparecer volta a ser outra, quando partimos do homem que atua praticamente no seu trabalho (werktätig), do homem que não deixa a natureza em paz, tirando dela apenas o que ela oferece de si mesma — que, em vez disso, modifica constantemente o mundo circundante, cobrindo a terra com…

  • (…) A fenomenologia, como movimento filosófico deste século, fez questão de desmascarar os “pseudo-problemas” nas questões enigmáticas (Vexierfragen) do pensamento e de conduzir as questões genuínas e sensatas, pelo menos, pelo caminho da resolução futura. Distancia-se explicitamente da dialética, de um modo de pensar que apoia a contradição, que admite a “força incrível do negativo”…

  • A riqueza do pensamento husserliano reside aqui no modo como repensa a distinção entre interior e exterior — e, portanto, entre imanência e transcendência — não como uma distinção “metafísica”, mas como uma distinção fenomenológica interna ao corpo-da-carne (Leib). É um Leib interno que se exterioriza no que é ainda um Leib externo, e não…

  • Se o homem é entendido fundamentalmente como ser-no-mundo ou como fenômeno-do-mundo, então o seu Leib, isto é, o seu “corpo vivido”, o seu “corpo animado” ou o seu “corpo de carne” (onde “carne” deve ser entendido no sentido em que Merleau-Ponty o entendeu em Le visible et l’invisible : A partir de agora, utilizaremos esta…

  • A expressão não conduz à dissolução da Natureza na transparência do Espírito, mas escava novas dimensões no mundo, fazendo recuar um pouco mais a sua opacidade e profundidade constitutivas: porque nasce de uma palavra, o sentido está ainda envolvido por aquilo que pretende envolver. Não podemos, portanto, subordinar a expressão a uma consciência que, nela,…

  • Resumamos por agora: partimos da deliberação de que a percepção não significa registrar imagens passivamente numa consciência de outro mundo. Toda a percepção é muito mais incorporada: baseia-se na interação sensório-motora com as coisas, na prática corporal concreta. Foi ainda demonstrado que o sujeito da percepção se estende ao longo do espaço corporal, e isto…

  • O último corolário do teorema da intencionalidade é a noção fenomenológica de corpo próprio ou, na linguagem dos últimos escritos de Merleau-Ponty, a noção de carne. Quando se pergunta como é possível que um sentido exista sem ser consciente, o fenomenólogo responde: o seu modo de ser é o do corpo, que não é nem…

  • Há muito tempo que nós, ocidentais, pensamos na memória como uma espécie de tipografia em que os vestígios de pessoas, lugares e coisas são gravados ou “dactilografados” na tábua de cera da mente. Mesmo depois de passado o momento da percepção, esses caracteres ou tipos perduram como traços de memória. A sua própria persistência implica…