Tag: Michel Henry

  • A autoexteriorização da exterioridade do “lá fora”, a que chamamos mundo, não é uma afirmação metafísica ou especulativa de natureza que deixe o leitor incerto ou duvidoso a seu respeito. Dizer que o mundo é verdade é dizer que ele torna manifesto. Como torna ele manifesto, como se cumpre esta pura manifestação, é o que…

  • A interpretação do que é como aquilo que se mostra, e, assim, do Ser como Verdade, domina o desenvolvimento do pensamento ocidental. Se consideramos a título de exemplo a filosofia da consciência surgida no século XVII, reconhecemos sem dificuldade que a consciência não é nada mais que o ato de se mostrar captado em si…

  • Nosso propósito não é de nos perguntar se o cristianismo é “verdadeiro” ou “falso”, estabelecer, por exemplo, a primeira destas hipóteses. O que aqui está em questão é, todavia, aquilo que o cristianismo considera como a verdade, o gênero de verdade que propõe aos homens, que se esforça de lhes comunicar não como uma verdade…

  • Depois de presença, marcando sua posição única na tradição filosófica francesa, especialmente na corrente fenomenológica, Michel Henry nos ofereceu nos últimos anos de sua vida reflexões sobre o fundamento “verdade” da tradição cristã. A este estudo se seguiu um aprofundamento sobre a “verdade encarnada” no livro A ENCARNAÇÃO. —- Índice -*Introdução: que chamaremos “cristianismo”? -*A…

  • Um corpo inerte semelhante aos que se encontram no universo material — ou ainda os que se podem construir utilizando os processos materiais extraídos deste, organizando-os e combinando-os segundo as leis da física -, tal corpo não sente nem experimenta nada. Ele não se sente nem se experimenta a si mesmo, não se ama nem…

  • Na verdade, o corpo da biologia é de certo modo um objeto cultural. Ele é, a esse título, essencialmente histórico, tanto em sua aparição quanto em suas modificações, que são as mesmas trazidas pelo desenvolvimento da ciência. Com semelhante corpo biológico, nós, os homens do presente, temos, é verdade, uma relação original, e somos todos,…

  • Por “subjetividade” entendemos aquilo que se experiencia a si mesmo. Não algo que também tem a propriedade de se experienciar a si mesmo, mas o próprio facto de se experienciar a si mesmo considerado em si mesmo e como tal. Experienciar-se a si mesmo significa aparecer a si mesmo, mas de tal modo que esse…

  • A determinação ontológica fundamental da afetividade como constituindo o ser da vontade e da ação coloca a problemática perante esta consequência essencial: na medida em que lhes é interior como seu ser, como constituindo a sua própria essência e realidade, o sentimento não pode depender da vontade ou do seu exercício, da ação, nem ser…

  • Entendido no seu sentido ontológico como a condição para que algo como um “fenómeno” se nos ofereça, ou, mais precisamente, como a própria estrutura da fenomenalidade, o conceito de distância fenomenológica deve obviamente ser distinguido do de distância espacial ou “real”. A distância que separa as coisas, ou que nos separa delas, é uma distância…

  • Desde a Regra I encontramos estes termos associados a outros que lhe são equivalentes: intellectus, bona mens, naturale rationis lumen, humana Sapientia, universalis Sapientia, scientia, e, na Regra II, cognitio certa et evidens – e o seu conteúdo é claro: é a evidência, ou melhor, a sua condição, a luz natural, isto é, transcendental –…

  • A questão do fenômeno é muito anterior à fenomenologia; abre-se com a filosofia e acompanha-a ao longo da sua história. Mas este pré-requisito inelutável – pois ser significa aparecer – é sobredeterminado por um pressuposto irrefletido. Da Grécia a Heidegger, nas problemáticas clássicas da consciência e da representação, nas suas críticas, na fenomenologia da intencionalidade…

  • Em todo caso, o próprio ver foi posto entre parênteses pela redução e não é enquanto fundados por ele, enquanto encontram nele o que faria deles modos do pensamento, que o sentido e a imaginação podem ser assimilados na segunda definição como modos absolutamente certos e que escapam da dita redução – muito menos, aliás,…

  • Penso que o saber e a acção formaram uma unidade harmoniosa durante muito tempo, mas que essa unidade foi rompida na aurora da modernidade, no momento em que Galileu cumpre o acto proto-fundador da ciência moderna e de uma nova era da qual somos, conscientes ou não, herdeiros, na medida em que partilhamos largamente os…

  • Lembremos nossas análises preliminares sobre a verdade do mundo. Elas tinham mostrado como esta Verdade se desdobra entre o aparecer do mundo e o que aparece nele. O aparecer do mundo, por um lado: seu “lá fora”, este horizonte de visibilidade em que todas as coisas do mundo se mostram a nós. O que aparece…

  • O homem não é essencialmente um ser histórico. Ele é sempre o mesmo. Tudo o que há de “profundo” nele — e com isso não pretendemos formular nenhuma apreciação de ordem axiológica, mas designamos o que deve ser considerado originário do ponto de vista ontológico — persiste idêntico a si mesmo e é encontrado ao…

  • Ludwig Wittgenstein 1 utiliza uma expressão da obra Fausto de Goethe, “No princípio era o acto”, por ser ilustradora de uma das suas ideias mais caras, a importância da acção. Este mote inspirou-nos à consideração do papel da acção no pensamento de Michel Henry. Pode, à primeira vista, parecer desconcertante que uma fenomenologia da imanência…

  • Digamo-lo de vez numa afirmação: para Michel Henry, o êthos da Ética é a Vida enquanto poder de se auto-experienciar e de se auto-revelar. Tal é o seu lugar ontológico (”le site ontologique”), a sua morada originária. Falamos, porém, não do eidos (ideia) da vida, mas da vida real, concreta e invisível de todos viventes,…

  • O que significa sentir? Na proposição “sentimus nos videre” – equivalente a videre videor –, sentir fará referência ao mesmo poder que aquele no seio do qual se desenvolve o ver? Em suma, ver é, pois, um modo de sentir da mesma maneira que ouvir ou tocar e, como tal, é o que é próprio…

  • O problema é pensar o corpo vivente, esse corpo que nunca deixamos de fazer a prova silenciosa em nossa vida cotidiana e que pomos em obra em cada uma de nossas ações – não mais a partir do mundo e da experiência do mundo, nem a partir do corpo objetivo. O que se trata é…

  • Assim sendo, de que vida se fala aqui? Qual é esta força de existência que não cessa de se manter e de crescer? De maneira alguma a vida que forma o tema da biologia, o objeto de uma ciência, estas moléculas e estas partículas que o cientista busca alcançar através de seus microscópios, de onde…