Castilho
“Ocupar-se” de alimentar e de vestir, cuidar de um corpo doente são também preocupação-com. Entendemos, porém, essa expressão, em correspondência com o emprego de ocupação, como termo para um existenciário. A organização social factual, por exemplo, que em alemão se chama “Fürsorge”, funda-se também na constituição-de-ser do Dasein como ser-com. Sua urgência factual é motivada pelo fato de o Dasein se manter de pronto e no mais das vezes nos modi deficientes da preocupação-com. Ser um para o outro, ser um contra o outro, prescindir um do outro, passar um ao lado do outro, não se importar em nada com o outro são modos possíveis da preocupação-com. E, precisamente os modi da deficiência e da indiferença, nomeados por último, são os que caracterizam o cotidiano e mediano ser-um-com-o-outro. Esses modi-do-ser mostram de novo o caráter de não-surpresa e de algo-que-se-entende-por-si-mesmo que são próprios tanto do cotidiano Dasein-com dos outros no-interior-do-mundo como da utilizabilidade do instrumento de ocupação diária. Esses modi indiferentes do ser-um-com-o-outro desviam facilmente a interpretação ontológica para que de pronto se interprete esse ser como pura subsistência de vários sujeitos. Conquanto tenham a aparência de variantes desimportantes do mesmo modo-de-ser, no entanto persiste uma diferença ontológica essencial entre a coocorrência “indiferente” de coisas quaisquer e o-não-se-importar-em-nada-com-os-outros de entes que são-uns-com-os-outros. (p. 351)
“Ocupar-se” da alimentação e vestuário, tratar do corpo doente é também preocupação. Numa simetria com a ocupação, entendemos essa expressão como termo de um existencial. A “preocupação”, no sentido de instituição social fática, por exemplo, funda-se na constituição de ser da presença enquanto ser-com. Sua urgência provém de, numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, a presença manter-se nos modos deficientes de preocupação. O ser por um outro, contra um outro, sem os outros, o passar ao lado um do outro, o não sentir-se tocado pelos outros são modos possíveis de preocupação. E precisamente estes modos, que mencionamos por último, de deficiência e indiferença, caracterizam a convivência cotidiana e mediana de um com outro. Também esses modos de ser apresentam o caráter de não surpresa e evidência que convém tanto a co-presença intramundana cotidiana dos outros como a manualidade do instrumento de que se ocupa no dia-a-dia. Esses modos indiferentes da convivência recíproca facilmente desviam a interpretação ontológica para um entendimento imediato desse ser como ser simplesmente dado de muitos sujeitos. Embora pareçam apenas nuanças insignificantes do mesmo modo de ser, subsiste ontologicamente uma diferença essencial entre a ocorrência “indiferente” de coisas quaisquer e o não sentir-se tocado dos entes que convivem uns com os outros. (2006, p. 177)
También “ocuparse” de la alimentación y el vestido, o el cuidado del cuerpo enfermo, es solicitud. Entendemos, sin embargo, esta expresión, paralelamente al uso que hemos hecho del vocablo “ocupación”, como un término que designa un existencial. La “Fürsorge” en el sentido (que también tiene esta palabra en alemán), de institución social fáctica, se funda en la estructura de ser del Dasein que es el coestar. Su urgencia fáctica deriva del hecho de que inmediata y regularmente el Dasein se mueve en modos deficientes de la solicitud. Ser uno para otro, estar uno contra otro, prescindir los unos de los otros, pasar el uno al lado del otro, no interesarse los unos por los otros, son posibles modos de la solicitud. Y precisamente los modos de la deficiencia y la indiferencia, mencionados al final, caracterizan el convivir cotidiano y de término medio. Estos modos de ser ostentan, una vez más, el carácter de la no-llamatividad y de lo obvio que es tan propio de la cotidiana coexistencia intramundana de los otros como del estar a la mano del útil de que nos ocupamos a diario. Estos modos indiferentes del convivir desvían fácilmente la interpretación ontológica induciéndola a entender primeramente el estar con los otros como un simple estar-ahí de varios sujetos. Aunque parezcan variedades insignificantes del mismo modo de ser, hay, sin embargo, una diferencia ontológica esencial entre el “indiferente” encontrarse-ahí-juntas de cosas [SZ:122] cualesquiera y el recíproco no interesarse de los que están unos con otros. (p. 146)
Même la « préoccupation » concernant l’alimentation et l’habillement, le soin du corps malade, est souci mutuel. Mais cette expression, nous l’entendons, symétriquement à l’emploi terminologique de préoecupation, comme un existential. La « mutualité » (Fürsorge) par exemple en tant qu’institution sociale factive se fonde sur la (163) constitution d’être qu’est l’être-avec. Son urgence factive a son motif en ce que le Dasein se tient d’abord et le plus souvent dans les modes déficients du souci mutuel. Avoir égard à l’autre, être contre lui, être sans lui, passer l’un à côté de l’autre, ne rien demander à personne, autant de variétés possibles du souci mutuel. Et ce sont justement les modes de déficience et d’indifférence dernièrement nommés qui caractérisent l’être-en-compagnie quotidien et moyen. Ces modes d’être montrent encore le caractère d’insurprenante banalité et de cela-va-de-soi appartenant à la coexistence quotidienne d’autres au sein du monde, exactement comme le fait l’utilisabilité de l’util dont on se préoccupe journellement. Ces modes indifférents de l’être-encompagnie ont tôt fait d’induire l’interprétation ontologique à expliciter cet être en y voyant aussitôt un pur être-là-devant de plusieurs sujets. Il semble que nous soyons là en face de variétés du même genre d’être entre lesquelles il n’y a que de minimes différences et pourtant, ontologiquement, il y a bel et bien une différence essentielle entre la [SZ:122] comparution « indifférente » de choses rassemblées en vrac et le ne rien se demander mutuellement d’étants embarqués ensemble. (p. 163)
(158) Even ‘concern’ with food and clothing, and the nursing of the sick body, are forms of solicitude. But we understand the expression “solicitude” in a way which corresponds to our use of “concern” as a term for an existentiale. For example, ‘welfare work’ [“Fürsorge”], as a factical social arrangement, is grounded in Dasein’s state of Being as Being-with. Its factical urgency gets its motivation in that Dasein maintains itself proximally and for the most part in the deficient modes of solicitude. Being for, against, or without one another, passing one another by, not “mattering” to one another—these are possible ways of solicitude. And it is precisely these last-named deficient and Indifferent modes that characterize everyday, average Being-with-one-another. These modes of Being show again the characteristics of inconspicuousness and obviousness which belong just as much to the everyday Dasein-with of Others within-the-world as to the readiness-to-hand of the equipment with which one is daily concerned. These Indifferent modes of Being-with-one-another may easily mislead ontological Interpretation into interpreting this kind of Being, in the first instance, as the mere Being-present-at-hand of several subjects. It seems as if only negligible variations of the same kind of Being lie before us; yet ontologically there is an essential distinction between the ‘indifferent’ way in which Things at random occur together and the [SZ:122] way in which entities who are with one another do not “matter” to one another. (p. 157)
Auch das »Besorgen« von Nahrung und Kleidung, die Pflege des kranken Leibes ist Fürsorge. Diesen Ausdruck verstehen wir aber entsprechend der Verwendung von Besorgen als Terminus für ein Existenzial. Die »Fürsorge« als faktische soziale Einrichtung zum Beispiel gründet in der Seinsverfassung des Daseins als Mitsein. Ihre faktische Dringlichkeit ist darin motiviert, daß das Dasein sich zunächst und zumeist in den defizienten Modi der Fürsorge hält. Das Für-, Wider-, Ohne-einandersein, das Aneinandervorbeigehen, das Einander-nichts-angehen sind mögliche Weisen der Fürsorge. Und gerade die zuletzt genannten Modi der Defizienz und Indifferenz charakterisieren das alltägliche und durchschnittliche Miteinandersein. Diese Seinsmodi zeigen wieder den Charakter der Unauffälligkeit und Selbstverständlichkeit, der dem alltäglichen innerweltlichen Mitdasein Anderer ebenso eignet wie der Zuhandenheit des täglich besorgten Zeugs. Diese indifferenten Modi des Miteinanderseins verleiten die ontologische Interpretation leicht dazu, dieses Sein zunächst als pures Vorhandensein mehrerer Subjekte auszulegen. Es scheinen nur geringfügige Spielarten derselben Seinsart vorzuliegen und doch besteht ontologisch zwischen dem »gleichgültigen« Zusammenvorkommen beliebiger Dinge und dem (122) Einander-nichts-angehen miteinander Seiender ein wesenhafter Unterschied. (p. 121-122)