A metafísica não se desfaz como se desfaz uma opinião. Não se pode deixá-la para trás como se faz com uma doutrina em que não mais se acredita ou defende.
Como animal rationale ou, hoje em dia, como o ser vivo trabalhador, o homem deve errar pelo deserto da desolação da terra. Isto pode ser um sinal de que a metafísica acontece com propriedade a partir do ser ele mesmo e a superação da metafísica acontece como uma sustentação [Verwindung] do ser. Na ordem metafísica de hoje, o trabalho alcançou a objetivação incondicional de todo vigente que vigora na vontade de querer.
Sendo assim, não devemos imaginar, com base num pressentimento qualquer, que podemos ficar fora da metafísica. Depois da superação, a metafísica não desaparece. Retorna transformada e permanece no poder como a diferença ainda vigente entre ser e ente.
Crepúsculo da verdade dos entes diz: a abertura manifestativa dos entes e somente deles perde a exclusividade de sua reivindicação determinante. [GA7CFS:61-61]
A superação da metafísica é pensada na dimensão da história do ser. Ela prenuncia a sustentação originária do esquecimento do ser. Mais antigo embora também mais escondido do que o prenúncio é o que nele se anuncia. Trata-se do acontecimento do próprio. O que, no modo de pensar da metafísica, aparece como prenúncio de uma outra coisa, chega e toca como o brilho derradeiro de uma clareira mais originária. A superação permanece digna de ser pensada somente enquanto se pensa a sustentação [Verwindung]. Esse pensamento insistente ainda pensa a superação. Tal pensamento faz a experiência do acontecimento singular da des-apropriação dos entes, em que se iluminam a indigenda da verdade do ser e a originariedade da verdade, e também transluz com desprendimento o vigor essencial do humano. A superação é a trans-missão da metafísica em sua verdade. [GA7CFS:68]