Sloterdijk (2016:54-55) – ser-meio

O que chamamos tornar-se adulto são essas trabalhosas passagens das subjetividades em menor escala para formas do mundo mais ampliadas; a expressão muitas vezes também significa a adaptação da consciência tribal a condições imperiais e fundadas na escrita. Para a criança que fomos, o espaço de operações ampliado pode, ainda por um tempo, denominar-se a grande família; tão logo o horizonte da família é ultrapassado, as formas sociais mais desenvolvidas fazem valer suas pretensões de moldar e animar os indivíduos. No que respeita aos tempos pré-históricos, a forma social padrão aparece como horda, com a tendência à formação de comunidades clânicas e tribais. Nos tempos históricos, ela surge como povo, com a tendência ao estabelecimento de cidades, nações e impérios. Em ambos os regimes, tanto no pré-histórico como no histórico, a existência humana não tem nunca uma relação apenas adaptativa e integrativa com isso que se chama, em termos modernos e demasiado polidos, “o ambiente”; ao contrário: essa própria existência gera em torno de si o espaço através do qual e no qual transcorre. A cada forma social pertence uma específica habitação do mundo, uma redoma de sentido sob a qual os seres (54) humanos primeiramente se reúnem, compreendem-se, defendem-se, multiplicam-se, irrompem das fronteiras. As hordas, as tribos e as nações e, mais ainda, os impérios são, em seus correspondentes formatos, entidades psicossocioesféricas que se põem a si mesmas em ordem, climatizam—se e se contêm a si mesmas. Em cada instante de sua existência, essas entidades são forçadas a estender sobre si, com seus meios particulares, seu próprio céu semiótico, do qual afluem em direção a elas inspirações comuns formadoras de caráter.

(SLOTERDIJK, Peter. Esferas I. Bolhas. Tr. José Oscar de Almeida Marques. Rio de Janeiro: Estação Liberdade, 2016)