ser-si-mesmo

Sem a originária revelação do nada (Nichts) não há ser-si-mesmo (Selbstsein), nem liberdade (Freiheit). (MHeidegger O QUE É METAFÍSICA?)


1) Acontecimento apropriador: a luz segura da essenciação do seer no campo de visão extremo da mais íntima indigência do homem histórico. 2) O ser-aí: o entre aberto no meio e, assim, velador, entre a chegada e a fuga dos deuses e o homem nele enraizado. 3) O ser-aí tem a origem no acontecimento apropriador e em sua viragem. 4) Por isto, ele só pode ser fundado como a verdade e na verdade do seer. 5) A fundação – não recriação – é um deixar-ser-fundamento por parte do homem, que chega, com isto, pela primeira vez, uma vez mais a si e reconquista o SER-SI-MESMO. 6) O fundamento fundado é ao mesmo tempo abismo para a abertura do fosso abissal do seer e não fundamento para o abandono do ser do ente. 7) A tonalidade afetiva fundamental da fundação é a retenção. 8) A retenção é a referência insigne, instantânea ao acontecimento apropriador no ser chamado por meio de seu conclamar. 9) O ser-aí é o acontecimento fundamental da história por vir. Esse acontecimento emerge do acontecimento apropriador e se torna um sítio instantâneo possível para a decisão sobre o homem – sua história ou não história como sua transição para o ocaso. 10) O acontecimento apropriador e o ser-aí estão em sua essência, isto é, em sua pertinência enquanto fundamento da história, ainda completamente velados e permanecerão por um longo tempo causando estranhamento. Faltam as pontes; os saltos ainda não foram levados a termo. Ainda permanece de fora a profundidade da experiência da verdade que lhes satisfazem e a meditação sobre o seu sentido: a força da decisão elevada. Em contrapartida, numerosas no caminho são apenas as ocasiões e os meios da má interpretação, porque falta mesmo o saber daquilo que aconteceu no primeiro início. (tr. Casanova; GA65: 11)

Que a morte seja projetada no nexo essencial da futuridade originária do ser-aí em sua essência ontológico-fundamental significa, porém, de início, no quadro da tarefa de Ser e tempo, que ela se encontra em uma conexão com o “tempo”, que é estabelecido como âmbito projetivo da própria verdade do seer. Já isso é um aceno suficientemente claro para aquele que quer participar concomitantemente do questionamento de que aqui a questão acerca da morte se encontra em uma ligação essencial com a verdade do seer e apenas nessa ligação; de que, por isso, a morte enquanto a negação do seer ou mesmo enquanto o “nada” nunca é tomada aqui como a essência do seer, mas exatamente o contrário: a morte é a testemunha mais elevada e mais extrema do seer. Mas esse testemunho nunca tem como ser sabido senão por aquele que consegue experimentar e fundar concomitantemente o ser-aí na propriedade do SER-SI-MESMO, que não é visado em termos morais e pessoais, mas sempre uma vez mais apenas de modo “ontológico-fundamental”. (tr. Casanova; GA65: 161)

Expelidos dessa verdade e cambaleando no abandono do ser, nós não sabemos senão muito pouco sobre a essência do si mesmo e sobre os caminhos para o saber autêntico. Pois por demais tenaz é o primado da consciência “egoica”, sobretudo porque essa consciência pode se esconder em múltiplas figuras. As mais perigosas são aquelas, nas quais o “eu” sem mundo teria aparentemente abdicado de si e se entregue a um outro, que seria “maior” do que ele e ao qual ele é atribuído de maneira parcial e parte a parte. A dissolução do “eu” na “vida” como povo: aqui, a superação do “eu” é viabilizada a partir do abandono da primeira condição de tal superação, a saber, a meditação sobre o SER-SI-MESMO e sobre sua essência, que se determina a partir da atribuição apropriadora e da sobreapropriação. (tr. Casanova; GA65: 197)

A clareira para o encobrir-se clareia-se no projeto. A jogada do projeto acontece como ser-aí, e o jogador dessa jogada é respectivamente aquele SER-SI-MESMO, no qual o homem tem sua jurisdição. (tr. Casanova; GA65: 229)

O que está voltado para o projeto nunca se mostra como um em si puro e simples, nem o que projeta consegue algum dia se colocar puramente por si, mas essa contenda em jogo no fato de que cada um dos dois se vira contra o outro, vinculando-se a ele e se referindo de volta a ele, é a consequência da intimidade, que se essencia na essência da verdade como clareira do encobrir-se. Com uma mera dialética extrínseca da relação sujeito-objeto não se concebe nada aqui, mas essa relação mesma, fundada na correção como uma estaca da verdade, tem sua origem a partir da essência da verdade. Com certeza, essa origem da contenda e essa contenda mesma precisam ser agora indicadas. Para tanto, não é suficiente refletir apenas sobre a clareira e sobre a sua instituição por meio do projeto, mas é necessário em primeiro lugar que a clareira mantenha no aberto o que se encobre e que o arrebatamento fascinante que provém daí como determinante deixe afinar inteiramente o SER-SI-MESMO daquele que projeta. Somente assim acontecerá algum dia a sobreapropriação junto ao ser e, nela, a atribuição apropriadora ao próprio jogador, razão pela qual ele chegará, por sua parte, a se encontrar pela primeira vez na clareira (do que se encobre), se tornando insistente no aí. (tr. Casanova; GA65: 229)

O SER-SI-MESMO é o resultado que se encontra já na busca, a luminosidade segura, que ilumina de antemão toda veneração, graças à qual apenas nós nos encontramos abertos para a ressonância do que há de mais único e de maior. (tr. Casanova; GA65: 250)