ser como presença

Mas uma vez concedido que o modo de dar, em que dá-Se tempo, exige a caracterização exposta, permanecemos ainda sempre confrontados com o enigmático “Se” que nomeamos quando dizemos: Dá-Se tempo. Dá-Se ser. Aumenta o risco de, com esta denominação do “Se”, criarmos arbitrariamente uma força indeterminada, que teria por função realizar tudo o que se refere ao dar de ser e de tempo. Fugiremos, no entanto, à indeterminação, e evitaremos o arbítrio, enquanto nos ativermos às determinações do dar que procuramos mostrar, e isto precisamente a partir da visão antecipadora sobre o ser como presença, e sobre o tempo no âmbito do alcançar da clareira de um múltiplo presentar. O dar no “dá-Se ser” revelou-se como destinar e como destino de presença, em suas transformações epocais. MHeidegger: TEMPO E SER

Na medida em que no ser como presença se anuncia algo semelhante ao tempo, reforça-se a conjetura, a que já aludimos, de que o tempo autêntico, o quádruplo alcançar do aberto, se deixaria descobrir como o “Se” que dá ser, isto é, presentar. A conjetura parece confirmar-se plenamente se atentarmos ao fato de que o ausentar também se manifesta como um modo de presentar. Mostrou-se, porém, no passado que presentifica o ainda-não-presente, pela recusa do presente; mostrou-se no vir-ao-nossoencontro que presentifica o ainda-não-presente pela retenção do presente, aquela maneira do alcançar iluminados que dá toda pre-s-ença para a clareira do aberto. MHeidegger: TEMPO E SER

No destinar do destino do ser, no alcançar do tempo, mostra-se um apropriar-se trans-propriar-se, do ser como presença e do tempo como âmbito do aberto, no interior daquilo que lhes é próprio. Aquilo que determina a ambos, tempo e ser, o lugar que lhes é próprio, denominamos: das Ereignis (o acontecimento-apropriação). (Ainda que Ereignis possa ser traduzido por acontecimento-apropriação, mantém-se doravante o termo alemão, pois de maneira alguma é possível transpor para o vernáculo toda a riqueza de conotações do termo original. Heidegger mesmo dá-me razão: “Ereignis como palavra-guia deixa-se tão pouco traduzir quanto a palavra-guia grega lógos ou a chinesa Tao”. Vide Que É Isto – a Filosofia? – Identidade e Diferença. (N. do T.)) O que nomeia esta palavra, somente podemos pensar agora a partir daquilo que se manifesta na vista prévia sobre ser e sobre tempo como destino e como alcançar, onde é o lugar de tempo e ser. A ambos, tanto ser como tempo, denominamos questões. O “e” entre ambos deixou sua relação recíproca no indeterminado. MHeidegger: TEMPO E SER

O primeiro período da conferência continua após a já citada frase: “A partir do presentar, da presença fala presente”. Esta frase é plurivoca. De um lado pode ser compreendida assim, que presentar como presença (praesenz) seja pensado em função daquele que percebe, de sua represença. Presente seria então uma determinação, conseqüência do presentear, e nomearia a relação deste, na perspectiva do homem que percebe. De outro lado, pode ser assim compreendido, que – de maneira geral – do presentar fale tempo, ficando no caso em aberto como e de que maneira “ser como presença é determinado pelo tempo”. A conferência visa a este segundo sentido. A plurivocidade, contudo, e a dificuldade da exposição do problema, o fato, portanto, de que, nas primeiras frases, não se trata de uma conclusão, mas de um primeiro tatear e medir o âmbito temático, podem conduzir a mal-entendidos, cuja eliminação somente é possível quando o olhar se mantém constantemente concentrado na temática da conferência como um todo. MHeidegger: PROTOCOLO DO SEMINÁRIO SOBRE A CONFERÊNCIA “TEMPO E SER”