As “contribuições” perguntam em uma via que é inicialmente aberta pela transição ao outro início, para o interior do qual o pensamento ocidental agora se volta. Essa via lança a transição no espaço aberto da história e a fundamenta como uma estada talvez muito longa, em cuja realização o outro início do pensamento permanece sempre apenas o pressentido, mas já de qualquer modo decidido. Com isto, apesar de já falarem e mesmo de só falarem da essência do SEER, isto é, do “acontecimento apropriador”, as “Contribuições” ainda não conseguem juntar a junção livre e fugidia da verdade do SEER a partir dele mesmo. Se isso algum dia tiver lugar, então essa essência do SEER determinará em seu estremecimento o conjunto articulado da obra pensante ela mesma. Esse estremecimento se fortalece, então, em nome do poder da ternura liberada característica de uma intimidade daquela deização do deus dos deuses, a partir da qual acontece apropriadoramente a destinação do ser-aí para o SEER, como para a fundação da verdade que é concernente ao SEER. [tr. Casanova; GA65: 1]
Mesmo aqui, porém, como em um exercício preparatório, precisamos tentar aquele dizer pensante da filosofia que advém de um outro início. Quanto a ele vale o seguinte: esse dizer nem descreve nem explica, nem anuncia nem instrui; não se tem aqui o dizer ante o que tem para ser dito, mas o dizer é ele mesmo como a essenciação do SEER. Esse dizer reúne o SEER em uma primeira ressonância de sua essência e só soa mesmo a partir dessa essência. [tr. Casanova; GA65: 1]
O tempo dos “sistemas” passou. O tempo da construção da figura essencial do ente a partir da verdade do SEER ainda não chegou. Entrementes, a filosofia precisa ter empreendido algo essencial em meio à transição para o outro início: o projeto, isto é, a abertura fundante do campo de jogo tempo-espacial da verdade do SEER. Como podemos realizar essa tarefa única? Permanecemos aqui sem precursores e sem uma base de sustentação. Meras variações do que se teve até aqui, por mais que aconteçam com a ajuda das maiores misturas possíveis de modos de pensar historicamente conhecidos, não nos fazem sair do lugar. E todo e qualquer tipo de escolástica de visões de mundo se encontra completamente fora da filosofia porque só podem persistir sobre a base da negação da dignidade de questão do SEER. A filosofia tem a sua própria dignidade não dedutível e incalculável na dignificação do que é digno de questão. Todas as decisões sobre seu agir são tomadas a partir da preservação dessa dignidade e enquanto preservações dessa dignidade. No entanto, no reino do que há de mais digno de questão, o agir só pode ser um questionar único. Se em algum de seus tempos encobertos a filosofia tem de se decidir, com a clareza de seu saber, por sua essência, então isso tem de se dar na transição para o outro início. [tr. Casanova; GA65: 1]
O outro início do pensamento é assim denominado não porque possua uma forma diversa da que possuia qualquer outra filosofia até aqui, mas porque precisa ser o unicamente outro a partir da ligação com o início unicamente uno e primeiro. A partir dessa articulação mútua de um início com o outro já está também determinado o modo da meditação pensante característico da transição. O pensamento inserido na transição empreende o projeto fundante da verdade do SEER como uma meditação histórica. A história não é aí o objeto e a circunscrição de uma consideração, mas aquilo que o questionar pensante primeiramente desperta e obtém como o sítio de suas decisões. O pensamento no interior da transição coloca o primeiro movimento de essenciação do SEER da verdade e o porvir mais extremo da verdade do SEER em discussão e dá voz, em meio a essa discussão, à essência até aqui inquestionada do SEER. No saber do pensamento inserido na transição, o primeiro início permanece decisivo como primeiro e é, entretanto, superado como início. Para esse pensamento, a reverência mais clara em relação ao primeiro início, que abre, além disso, pela primeira vez, o seu caráter único, precisa caminhar lado a lado com a ausência de um olhar para trás – uma ausência inerente à virada de outro questionar e dizer. [tr. Casanova; GA65: 1]
A questão do ser é a pergunta sobre a verdade do SEER. A pergunta até aqui da filosofia sobre o ente (a questão diretriz), ao ser levada a termo e concebida historicamente, se torna a questão fundamental. [tr. Casanova; GA65: 2]
A pergunta sobre a verdade do SEER aponta certamente para a inserção violenta em algo resguardado; pois a verdade do SEER – como verdade pensante ela é o saber insistente sobre como o SEER se essencia – talvez não caiba nem mesmo aos deuses, mas pertença unicamente ao abismal daquela junção destinatória à qual mesmo os deuses estão submetidos. E, no entanto: se o ente é, o SEER precisa se essenciar. Mas como se essencia o SEER? Mas é um ente? A partir de que outra instância decide aqui o pensar, se não a partir da verdade do SEER. Com isto, o SEER não pode mais ser pensado a partir do ente: ele precisa ser descoberto pelo pensamento a partir dele mesmo. [tr. Casanova; GA65: 2]
Por vezes, aqueles fundadores do abismo precisam ser consumidos no fogo do que se guarda, para que o ser-aí venha a ser possível para o homem e, assim, seja salva a constância em meio ao ente, para que o ente mesmo experimente a restauração no aberto da contenda entre terra e mundo. Consequentemente, o ente é voltado para o interior de sua constância por meio do ocaso dos fundadores da verdade do SEER. Tal movimento é exigido pelo próprio SEER mesmo. Ele precisa dos que experimentam o ocaso; e, onde quer que um ente apareça, o SEER já sempre se a-propriou desses fundadores que perecem em meio ao acontecimento, já sempre os atribuiu a si mesmo. Essa é a essenciação do SEER mesmo: nós a denominamos o acontecimento apropriador. A riqueza da ligação volteante do SEER com o ser-aí que lhe é entregue apropriadoramente é imensurável. A plenitude do acontecimento da apropriação é incalculável. E somente algo muito diminuto pode ser dito aqui “sobre o acontecimento apropriador” nesse pensar inicial. O que é dito é questionado e pensado em uma “conexão de jogo” do primeiro e do outro início a partir da “ressonância” do SEER; ele é questionado e pensado em meio à indigência do abandono do ser para o “salto” em direção ao interior do SEER. Esse “salto” tem por fim promover a “fundação” da verdade do SEER como a preparação dos “que estão por vir” e “do último deus”. Esse dizer pensante é uma diretiva. Essa diretiva indica o livre abrigo da verdade do SEER em meio ao ente como algo necessário, sem ser, contudo, uma ordem. Tal pensamento jamais pode ser transformado em uma doutrina: ele se subtrai completamente ao acaso da opinião. Além do mais, ele só dá uma diretiva aos poucos e ao seu saber, quando o que importa é o resgate dos homens da barafunda do não-ente, lançando-os para o interior da maleabilidade à junção característica de uma criação reservada dos sítios que são determinados para o passar ao largo do último deus. Mas se o acontecimento apropriador perfaz a essenciação do SEER, o quão perto está, então, o perigo de que ele recuse e precise recusar o acontecimento da apropriação porque o homem perdeu a força para o ser-aí, uma vez que a violência desencadeada do desvario em meio ao gigantesco o dominou sob a aparência da “magnitude”. No entanto, se o acontecimento apropriador se tornar recusa e denegação, isso significa apenas a retração do SEER e o abandono do ente ao não-ente? Ou será que a denegação (o caráter de não do SEER) pode se tornar no mais extremo o mais distante acontecimento da apropriação, posto que o homem conceba esse acontecimento apropriador e o horror do pudor o recoloque na tonalidade afetiva fundamental da retenção e, com isto, já o exponha para o ser-aí? [tr. Casanova; GA65: 2]
Saber a essência do SEER como acontecimento apropriador não significa apenas conhecer o perigo da recusa, mas estar pronto para a superação. Muito antes de todo o resto, a primeira coisa quanto a isso precisa permanecer: colocar o SEER em questão. [tr. Casanova; GA65: 2]
Ninguém compreende o que “eu” penso aqui: deixar o ser-aí eclodir a partir da verdade do SEER (e isso significa a partir da essenciação da verdade), para fundar aí o ente na totalidade e enquanto tal; e, em meio à sua fundação, o homem. [tr. Casanova; GA65: 2]
A partir de um simples toque do pensar essencial, o acontecimento da verdade do SEER precisa ser transposto do primeiro para o outro início, para que, em consonância, ressoe a canção totalmente diversa do SEER. E é por isto que a história está aqui realmente por toda parte: a história que se recusa ao historiológico, porque não deixa emergir o passado, mas se mostra em tudo o arrojar-se para além no que está por vir. [tr. Casanova; GA65: 2]
A ressonância do SEER como a ressonância da recusa. A conexão de jogo da pergunta sobre o SEER. A conexão de jogo é inicialmente conexão de jogo do primeiro início, para que este coloque em jogo o outro início e cresça a partir dessa alternância no jogo a preparação do salto. O salto no SEER. O salto projeta o abismo do esfacelamento e assim pela primeira vez a necessidade da fundação do ser-aí destinado a partir do SEER. A fundação da verdade como a fundação da verdade do SEER (o ser-aí). [tr. Casanova; GA65: 3]
Tudo se coloca aqui em função da única pergunta acerca verdade do SEER: em função do perguntar. Para que esta tentativa se transforme em um impulso, o espantoso do perguntar precisa ser experimentado em meio à sua realização e se tornar efetivo para o despertar e para o fortalecimento do poder de questão. [tr. Casanova; GA65: 4]
Em sua essência raramente experimentada, o perguntar é, assim, totalmente diverso do que apresenta a aparência de sua inessência, a fim de retirar tão frequentemente dos desencorajados a sua derradeira dose de coragem. Mas eles tampouco pertencem, então, ao anel invisível que envolve aqueles, aos quais o aceno do SEER responde em meio ao perguntar. [tr. Casanova; GA65: 4]
O perguntar sobre a verdade do SEER não se deixa contabilizar a partir do que se deu até aqui. E se ele deve preparar o início de outra história, a execução precisa ser originária. Por mais inacessível que permaneça a confrontação com o primeiro início da história do pensamento, é certo que o perguntar mesmo só precisa considerar a sua indigência e esquecer de tudo à sua volta. A história só emerge no salto imediato por sobre o “historiológico”. [tr. Casanova; GA65: 4]
A pergunta sobre o “sentido”, ou seja, segundo a explicitação presente em Ser e tempo, a pergunta sobre a fundação do âmbito do projeto, em suma, a pergunta sobre a verdade do SEER é e continua sendo minha pergunta e é minha única pergunta, pois ela concerne ao maximamente único. Na era da completa falta de questionamento em relação a todas as coisas é suficiente questionar ao menos uma vez a pergunta de todas as perguntas. [tr. Casanova; GA65: 4]
Na era do carecimento infinito que se origina a partir da indigência velada da falta de penúria, essa pergunta precisa necessariamente parecer como o falatório mais inútil – um falatório para além do qual as pessoas já se lançaram em boa hora. Todavia, resta a tarefa: a restauração do ente a partir da verdade do SEER. [tr. Casanova; GA65: 4]
A pergunta sobre o “sentido do SEER” é a pergunta de todas as perguntas. Na execução de seu desdobramento determina-se a essência do que denominamos aí “sentido”; determina-se o lugar em que a pergunta se retém como meditação, o que ela abre como pergunta: a abertura para o encobrir-se, isto é, a verdade. [tr. Casanova; GA65: 4]
A questão do ser é o salto para o interior do SEER, o salto que o homem realiza como aquele que busca o SEER, na medida em que se mostra como alguém que cria de maneira pensante. Na mais própria desmedida da força de buscar, aquele que busca o SEER é o poeta, que “instaura de modo fundante” o SEER. No entanto, nós homens atuais só temos um dever: preparar esses pensadores por intermédio da fundação, que se lança bem para frente, de uma prontidão para o que há de mais digno de questão. [tr. Casanova; GA65: 4]
Para os poucos que de tempos em tempos perguntam uma vez mais, isto é, que colocam em decisão de maneira renovada a essência da verdade. Para os raros, que trazem consigo a mais elevada coragem para a solidão, a fim de pensar a nobreza do SEER e falar de sua unicidade. O pensar no outro início é originariamente histórico de uma maneira única: o dispor autoconjuntivo sobre a essenciação do SEER. Um projeto da essenciação do SEER como o acontecimento apropriador precisa ser ousado porque não conhecemos a missão de nossa história. Que possamos experimentar de um modo fundamental a essenciação desse desconhecido em seu ocultar-se. Precisamos querer, porém, desdobrar esse saber, segundo o qual o desconhecido que nos é dado como tarefa deixa a vontade na solidão e, assim, obriga a existência do ser-aí à mais elevada retenção em relação ao que se oculta. [tr. Casanova; GA65: 5]
A proximidade em relação ao último deus é o silenciamento. Esse silenciamento precisa ser colocado em obra e em palavra no estilo da retenção. Ser na proximidade do deus – mesmo que essa proximidade seja a mais distante da indecidibilidade sobre a fuga ou a chegada dos deuses – isto não pode ser colocado na conta de uma “felicidade” ou “infelicidade”. A constância do próprio SEER porta sua medida em si, se é que ele precisa ainda de uma medida. Mas para quem de nós hoje essa constância ainda se encontra comunicada? Quase não acontece nem mesmo de a prontidão para uma necessidade vingar entre nós ou mesmo apenas o aceno para essa prontidão como o começo de uma outra via da história. [tr. Casanova; GA65: 5]
As recaídas em modos de pensar encalhados e em pretensões da metafísica ainda nos perturbarão por um longo tempo e impedirão a clareza do caminho e a determinação do dizer. Não obstante, o instante histórico da transição precisa ser levado a cabo a partir do saber de que toda metafísica (fundada na pergunta diretriz: “o que é o ente?) permanece sem condições de voltar o homem para as ligações fundamentais com o ente. Como é que ela poderia conseguir alcançar algo assim? Já a vontade para tanto não encontra nenhuma escuta, enquanto a verdade do SEER e sua unicidade não se tornarem necessidade. Como é que o pensamento pode ter sucesso naquilo que anteriormente permaneceu vedado ao poeta (Hölderlin)? Ou será que precisamos apenas arrancar sua via e sua obra do soterramento na direção da verdade do SEER? Estamos equipados para tanto? [tr. Casanova; GA65: 5]
A verdade do SEER só se torna necessidade por meio daqueles que perguntam. Eles são os crentes propriamente ditos, porque eles se mantêm – abrindo a essência da verdade – sobre o solo. Os que perguntam – solitários e sem os artifícios de um encantamento – estabelecem a nova e suprema posição hierárquica da insistência no meio do SEER, na essenciação do ser (acontecimento apropriador) como o meio. Os que questionam rejeitaram toda curiosidade, toda avidez pelo novo; sua busca ama o abismo, no qual eles sabem o mais antigo fundamento. [tr. Casanova; GA65: 5]
Se algum dia uma história nos for ainda uma vez comunicada, a exposição criadora ao ente a partir do pertencimento ao ser, então é indispensável a determinação: preparar o tempo-espaço da última decisão – se e como nós experimentamos e fundamos esse pertencimento. Nisso reside: de maneira pensante fundar o saber do acontecimento apropriador, por meio da fundação da essência da verdade enquanto ser-aí. Como quer que a decisão sobre a historicidade e a falta de historicidade possa vir a ser tomada, os questionadores, que preparam de maneira pensante a decisão, precisam ser, cada um porta a solidão para o interior de sua maior hora. Que dizer realiza o mais elevado silenciamento pensante? Que procedimento efetua mais prontamente a meditação sobre o SEER? O dizer da verdade; pois ele é o entre para a essenciação do SEER e a entidade do ente. Esse entre funda a entidade do ente no SEER. O SEER, porém, não é algo “anterior” – subsistindo por si, em si –, mas o acontecimento apropriador é a coetaneidade tempo-espacial para o SEER e o ente. [tr. Casanova; GA65: 5]
No conhecimento filosófico, em contrapartida, com o primeiro passo começa uma transformação do homem que compreende, e, em verdade, não no sentido moral-“existenciário”, mas de acordo com o modo de ser do ser-aí. Isto quer dizer: a ligação com o SEER e, antes disso sempre, com a verdade do SEER transforma-se ao modo da transposição para o próprio ser-aí. Como no conhecimento filosófico tudo é a cada vez e ao mesmo tempo transposto extasiadamente – o ser humano em seu estar aprumado na verdade, essa verdade mesma e, com isto, a ligação com o SEER – e como uma representação imediata de algo presente nunca é possível, o pensar da filosofia permanece estranho. [tr. Casanova; GA65: 5]
Sobretudo no outro início é preciso que – em consequência da pergunta acerca da verdade do SEER – seja logo levado a termo o salto para o interior do “entre”. O “entre” do ser-aí supera o chorismos; não na medida em que ele constrói uma ponte entre o SEER (a entidade) e o ente como margens por assim dizer presentes, mas na medida em que ele transforma o SEER e o ente ao mesmo tempo em sua coetaneidade. O salto no entre conquista pela primeira vez por meio do salto o ser-aí e não ocupa um suporte já pronto. [tr. Casanova; GA65: 5]
A tonalidade afetiva fundamental do pensar no outro início oscila nas tonalidades afetivas, que à distância só se deixam nomear como o espanto – a retenção – o pressentimento – o pudor. A ligação interna entre elas só é experimentada em meio ao pensar integral das junções particulares, nas quais a fundação da verdade do SEER e da essenciação da verdade precisa juntar. Para a unidade dessas tonalidades afetivas falta a palavra, e, contudo, seria necessário encontrar a palavra, a fim de evitar a fácil incompreensão em jogo em se supor que tudo estivesse colocado aqui em função de uma fraqueza covarde. É assim que o “heroísmo” barulhento deve julgar. [tr. Casanova; GA65: 5]
O espanto é a viagem de volta do caráter corrente do comportamento no familiar para a abertura do acometimento do que se encobre, em cuja abertura o que há até aqui de corrente se revela ao mesmo tempo como o estranho e como o agrilhoante. O que há de mais corrente, porém, e, por isto, mais desconhecido, é o abandono do ser. O espantar-se deixa que o homem volte ao fato de que o ente é, enquanto anteriormente o ente para ele era justamente o ente: o fato de que o ente é e de que esse – o SEER – abandonou todo “ente” e o que assim se parecia, de que ele se retirou dele. Todavia, esse espanto não é nenhum mero recuo, nem tampouco a abdicação perplexa da “vontade”, mas, como nele precisamente o encobrir-se do SEER se abre e o ente mesmo e a referência a ele se veem inclinados a serem conservados, se associa com esse espanto a partir dele mesmo a “vontade” que lhe é mais própria, e essa é aquilo que se denomina aqui a retenção. [tr. Casanova; GA65: 5]
A retenção, a tonalidade afetiva prévia da prontidão para a recusa como doação. Na retenção vigora, sem afastar nenhuma viagem de volta, o dirigir-se para o privar-se hesitante como a essenciação do SEER. A retenção é o meio para o espanto e o pudor. Esses caracterizam apenas de maneira mais expressa aquilo que onginariamente lhe pertence. Ela determina o estilo do pensar inicial no outro início. [tr. Casanova; GA65: 5]
O pudor, porém, segundo o que foi dito, não pode ser confundido com a timidez ou ser mesmo apenas compreendido na direção da timidez. Isto nos é tão pouco permitido que o pudor aqui visado excede até mesmo a “vontade” de retenção, e isto a partir da profundidade do fundamento da tonalidade afetiva fundamental una. Para ele, para o pudor em particular, emerge a necessidade do silenciamento, e essa necessidade é o deixar essenciar-se que afina completamente toda postura em meio ao ente e todo comportamento em relação ao ente, o deixar essenciar-se do SEER como acontecimento apropriador. [tr. Casanova; GA65: 5]
O pudor é o modo do aproximar-se e do permanecer perto do que há de mais distante enquanto tal, que, contudo, em seu aceno – quando ele é mantido no pudor – se transforma no que há de mais próximo e reúne todas as referências do SEER em si. Todavia, quem consegue afinar essa tonalidade afetiva fundamental da retenção espantada e marcada pelo pudor no homem essencial? E quantos ainda mensurarão o fato de essa afinação não fundar nenhum desvio diante do ente, mas o contrário: a abertura de sua simplicidade e grandeza e a necessidade originariamente coagida de abrigar no ente a verdade do SEER, a fim de dar assim ao homem histórico ainda uma vez uma finalidade: tornar-se fundador e o guardião da verdade do SEER, ser o aí como o fundamento usado pela própria essência do SEER: o cuidado, não como pequena preocupação em torno de algo qualquer e não como denegação do júbilo e da força, mas mais originário do que tudo isso, porque unicamente “em virtude do SEER”, não do SEER do homem, mas do SEER do ente na totalidade. [tr. Casanova; GA65: 5]
No pensamento inicial sobretudo, regiões da verdade do SEER precisam ser atravessadas, para que, então, quando o ente brilhar, elas possam se retrair uma vez mais no velamento. Essa divergência pertence essencialmente à comunicabilidade do “efeito” de toda filosofia. [tr. Casanova; GA65: 5]
Na filosofia, algo essencial, depois que ele, quase velado, recebe um choque, precisa se retrair e ganhar o cerne do insuficiente (para a maioria), porque esse elemento essencial é inultrapassável e, por isto, precisa se subtrair em meio à possibilitação do início. Pois sempre se precisa iniciar uma vez mais com o SEER e com a sua verdade. [tr. Casanova; GA65: 5]
A retenção, o meio afinador do espantar-se e do pudor, o traço fundamental da tonalidade afetiva fundamental, nela afina-se o ser-aí com vistas ao silêncio do passar ao largo do último deus. De maneira criadora nessa tonalidade afetiva fundamental do ser-aí, o homem torna-se o guardião desse silêncio. Assim, a meditação inicial do pensar torna-se necessariamente um pensar autêntico, quer dizer, um pensar que estabelece a meta. Não uma meta qualquer e não a meta em geral, mas a meta única e, assim, particular de nossa história: é essa meta que é estabelecida. Essa meta é a própria busca, a busca do SEER. Ele acontece e é mesmo a mais profunda descoberta, quando o homem se torna aquele que vela pela verdade do SEER, o guardião daquele silêncio e é decidido nessa direção. [tr. Casanova; GA65: 5]
Ser o que busca, o que vela, o que guarda – isto significa o cuidado enquanto traço fundamental do ser-aí. Em seu nome reúne-se a determinação do homem, na medida em que ele é concebido a partir de seu fundamento, isto é, a partir do ser-aí, o qual se encontra apropriado em meio ao acontecimento e imerso na viragem para o acontecimento apropriador enquanto para a essência do SEER e só pode se tornar insistente por força de sua origem como fundação do tempo-espaço (“temporialidade”), a fim de transformar a indigência do abandono do ser na necessidade da criação como a restituição do ente. E nos juntando à junção do SEER, nós nos encontramos à disposição dos deuses. A própria busca é a meta. E isto significa: “metas” estão ainda por demais ligadas ao primeiro plano e sempre continuam se colocando diante do SEER – e soterram o necessário. À disposição dos deuses – o que isto significa? E se os deuses forem o indecidido, porque ainda resta em um primeiro momento recusada a abertura da deização? Aquela palavra significa: à disposição para o ser usado no descerramento desse aberto. E aqueles que determinam previamente pela primeira vez a abertura desse aberto e que precisam realizar a afinação sobre eles, na medida em que repensam a essência da verdade e a elevam ao nível de questão, esses são os que são mais duramente usados. À “disposição dos deuses” – isto significa: se encontrar – muito para além e para fora – para fora do caráter corrente do “ente” e de suas interpretações; pertencer aos que se acham mais ao longe, para os quais a fuga dos deuses permanece o mais próximo em sua mais ampla subtração. [tr. Casanova; GA65: 5]
As pessoas se reportam às rasas poças d’água das “vivências”, incapazes de mensurar a ampla estrutura do espaço pensante e de pensar em tal abertura a profundidade e a altitude do SEER. E onde se acredita superior “à vivência”, isto acontece como um reportar-se a uma perspicácia vazia. De onde, porém, deve chegar a educação para o pensar essencial? A partir de um pensar prévio e de um seguir as sendas decisivas. Quem, por exemplo, acompanha a longa senda da fundação da verdade do SEER? Quem pressente algo da necessidade do pensar e do questionar, daquela necessidade, que não carece das muletas do por quê e nem dos apoios do para quê? Quanto mais necessário o dizer pensante do SEER, tanto mais incontornável se torna o silenciamento da verdade do SEER por meio do curso do questionamento. Mais fácil do que outros, o poeta encobre a verdade na imagem e a doa assim à visão para a conservação. Como é, porém, que o pensar abriga a verdade do SEER, se não na pesada lentidão do curso de seu passo questionador e de sua consequência vinculada? Inaparente como em um campo solitário sob o grande céu, com seu passo pesado, hesitante, que para a cada instante, o semeador abre os fulcros na terra e mede e configura ao jogar o braço o espaço velado de todo crescimento e amadurecimento. Quem ainda consegue levar a termo algo assim no pensamento como o que há de mais inicial de sua força e como o seu futuro supremo? [tr. Casanova; GA65: 5]
Se uma questão pensante não é tão simples e tão pre-ponderante, a ponto de ela determinar a vontade pensante e o estilo de pensamento de séculos, lhes dando a pensar o mais elevado, então ela permanece na melhor das hipóteses inquestionada. Pois ela amplia – meramente enunciada – apenas o mercado anual incessante dos “problemas” que coloridamente se alternam, aquelas repreensões que não acertam em nada e pelas quais ninguém se vê tocado. Como é que as coisas se encontram – assim mensuradas – em relação à questão do SEER, questão essa que requestiona, imersa em si mesma em um movimento de viragem, ao mesmo tempo o SEER da verdade? Por quanto tempo só o caminho deve surgir, o caminho sobre o qual apenas pela primeira vez a questão da verdade é tocada? O que futuramente e em verdade tem o direito de se chamar filosofia tem de realizar isto como o primeiro e único ponto: primeiro encontrar, isto é, fundar o lugar do questionar pensante da questão uma vez mais inicial: o ser-aí. [tr. Casanova; GA65: 5]
A questão pensante acerca da verdade do SEER é o instante, que sustenta a transição. Esse instante não é nunca efetivamente fixável, nem tampouco tem como ser contabilizado. Ele estabelece pela primeira vez o tempo do acontecimento apropriador. A simplicidade única dessa transição nunca é concebível historiologicamente, porque a “história” historiológica pública passou há muito tempo ao largo dessa transição, mesmo que ela possa ser mostrada mediatamente para essa “história”. Assim, fica reservado para esse instante um longo caráter de futuro, contanto que deva ser quebrado ainda uma vez o esquecimento do ser do ente. [tr. Casanova; GA65: 5]
No ser-aí e enquanto ser-aí acontece apropriadoramente para o SEER a verdade, que ele mesmo revela como a recusa, como aquela região do aceno e da subtração – do silêncio – nos quais se decidem pela primeira vez a chegada e a fuga do último deus. O homem não consegue realizar nada para tanto e é quando a preparação da fundação do ser-aí lhe é entregue como tarefa que ele se encontra menos em condições de tal realização, de tal modo que essa tarefa determina inicialmente uma vez mais a essência do homem. [tr. Casanova; GA65: 5]
A questão é que a tonalidade afetiva fundamental afina o ser-aí e, com isto, o pensar como projeto da verdade do SEER na palavra e no conceito. A tonalidade afetiva é a pulverização do estremecimento do SEER como acontecimento apropriador no ser-aí. Pulverização: não como um mero desaparecimento e extinção, mas, ao contrário: como guarda da chama no sentido da clareira do aí de acordo com a plena abertura do fosso abismal do SEER. A tonalidade afetiva fundamental do outro início quase não tem como ser jamais nomeada por meio de um nome; e isto se mantém até mesmo na transição para ele. A pluralidade de nomes, porém, não nega a simplicidade dessa tonalidade afetiva fundamental e só mostra em meio ao inconcebível todo o seu caráter simples. A tonalidade afetiva fundamental se chama para nós: o espanto, a retenção, o pudor, o pressentimento, o abrir-se para o pressentimento. [tr. Casanova; GA65: 6]
O pressentir abre a amplitude do encobrimento do que se encontra em uma relação de referência e talvez recusado. O pressentimento – visado em termos da tonalidade afetiva fundamental – não se remete de maneira alguma apenas, tal como acontece com o pressentimento habitual pensado em termos de cálculo, para aquilo que está por vir e para o que é apenas iminente, ele mensura transversalmente e avalia por meio de tal mensuração toda a temporalidade: o campo de jogo tempo-espacial do aí. O pressentir é a guarda que se funda de volta em si mesma do poder afinador, o abrigar hesitante e, de qualquer modo, que prepondera já sobre toda a incerteza da mera opinião, do desencobrimento do velado enquanto tal, da recusa. O pressentimento posiciona a in-sistência inicial no ser-aí. Ela é em si horror e entusiasmo ao mesmo tempo – contanto, sempre, que, enquanto tonalidade afetiva fundamental, ele afine e determine aqui de maneira afinadora o estremecimento do SEER no ser-aí enquanto ser-aí. [tr. Casanova; GA65: 6]
Toda e qualquer denominação da tonalidade afetiva fundamental por meio de uma única palavra fixa-se sobre uma opiniáo equivocada. Toda e qualquer palavra é sempre retirada do que é legado pela tradição. O fato de a tonalidade afetiva fundamental do outro início precisar ser dotada de muitos nomes não contesta sua simplicidade, mas confirma sua riqueza e sua estranheza. Toda e qualquer meditação sobre essa tonalidade afetiva fundamental é constantemente apenas uma lenta equipagem com vistas ao insight afinador da tonalidade afetiva fundamental, que precisa permanecer fundamentalmente um a-caso. A equipagem com vistas a tal a-caso só consiste naturalmente, de acordo com a essência da tonalidade afetiva, na ação pensante transitória; e essa ação precisa crescer a partir do saber propriamente dito (do resguardo da verdade do SEER). Mas se o SEER se essencia como a recusa e se essa recusa mesma deve vigorar em sua clareira e ser conservada como recusa, então a prontidão para a recusa só pode subsistir como abdicação. A abdicação não é aqui, contudo, o mero não querer ter e o deixar de lado, mas ela acontece como a forma mais elevada da posse, cuja elevação encontra a decisão na franqueza do entusiasmo pela doação do insondável pelo pensar, isto é, pela doação da recusa. Nessa decisão, o aberto da transição é retido e fundado – o em-meio-a abissal do entre em relação ao não-mais do primeiro início e de sua história e ao ainda-não do preenchimento do outro início. Nessa decisão, toda guarda do ser-aí precisa fincar pé, na medida em que o homem como fundador do ser-aí precisa se tornar o guardião do silêncio do passar ao largo do último deus. Essa decisão, porém, enquanto pressentindo, é apenas a sobriedade da força de sofrimento do criador, aqui daquele que projeta a verdade do SEER, que abre o silêncio para a violência essencial do ente, a partir da qual o SEER (como acontecimento apropriador) torna-se apreensível. [tr. Casanova; GA65: 6]
Até que ponto o deus se encontra afastado de nós, aquele que nos nomeia fundadores e criadores, porque sua essência precisa de tais homens? Ele está tão afastado que nós não conseguimos decidir, se ele se movimenta em nossa direção ou se ele está se distanciando de nós. E repensar plenamente essa distância mesma em sua essenciação como o tempo-espaço da suprema decisão significa questionar acerca da verdade do SEER, acerca do próprio acontecimento apropriador, do qual toda história futura provém, se é que ainda haverá história. Essa distância da indecidibilidade do mais externo e do primeiro é o iluminado para o encobrir-se, é a essenciação da própria verdade como a verdade do SEER. Pois o que se encobre dessa clareira, a distância da indecidibilidade, não é nenhum mero vazio presente à vista e indiferente, mas a essenciação mesma do acontecimento apropriador como essência do acontecimento apropriador, como essência da renúncia hesitante, que se apropria do ser-aí em meio ao acontecimento como já copertinente, o deter-se do instante e dos sítios da primeira decisão. [tr. Casanova; GA65: 7]
Na essência da verdade do acontecimento apropriador decide-se e funda-se ao mesmo tempo todo verdadeiro, o ente se faz ente, o não ente desliza para o interior da aparência do SEER. Essa distância é, sobretudo: a mais ampla e para nós primeira proximidade com deus, mas também a indigência do abandono do ser, encoberto pela ausência de indigência, que se atesta por meio do desvio em relação à meditação. Na essenciação da verdade do SEER, no acontecimento apropriador e como acontecimento apropriador, encobre-se o último deus. [tr. Casanova; GA65: 7]
O despertar dessa indigência é o primeiro tresloucamento do homem para o interior daquele entre, no qual a confusão acossa de maneira uniforme e o deus permanece em fuga. Esse “entre”, contudo, não é nenhuma “transcendência” com relação ao homem, mas é, ao contrário, aquele aberto, ao qual pertence o homem como fundador e guardião, na medida em que ele é apropriado em meio ao acontecimento como ser-aí pelo SEER mesmo, que não se essencia como nada diverso senão como acontecimento apropriador. [tr. Casanova; GA65: 7]
Se o homem, por meio desse tresloucamento, chegar a se aprumar no acontecimento apropriador e se ele continuar insistentemente na verdade do SEER, então ele continuará se encontrando sempre a princípio no salto para a experiência decidida quanto a se, no acontecimento apropriador, se decide em nome dele ou contra ele o ficar de fora ou a entrada em cena do deus. [tr. Casanova; GA65: 7]
Somente se mensuramos o quão unicamente necessário o ser é e como ele não se essencia como o próprio deus; somente se tivermos determinado nossa essência com vistas a esses abismos entre o homem e o SEER e entre o SEER e os deuses, somente então os “pressupostos” começarão uma vez mais a serem efetivamente realizados para uma “história”. Por isto, em termos de pensamento, a única coisa que se mostra como válida é a meditação com vistas ao “acontecimento apropriador”. Por fim e em primeiro lugar, o “acontecimento apropriador” só pode ser re-pensado (compelido para diante do pensar inicial), se o SEER mesmo for concebido como o “entre” para o passar ao largo do último deus e para o ser-aí. [tr. Casanova; GA65: 7]
O acontecimento apropriador se sobrepõe apropriadoramente ao deus no homem, na medida em que ele se apropria do homem para o deus. Essa apropriação sobre-apropriada em meio ao acontecimento é o acontecimento apropriador, no qual a verdade do SEER é fundada como ser-aí (o homem transformado, voltado para a decisão do ser-aí e ser-se-ausentando) e a história toma o seu outro início a partir do SEER. A verdade do SEER, porém, como abertura do encobrir-se é ao mesmo tempo voltada para a decisão quanto à distância e à proximidade dos deuses e, assim, a prontidão para o passar ao largo do último deus. [tr. Casanova; GA65: 7]
O acontecimento apropriador é o entre no que concerne ao passar ao largo do deus e à história do homem. Mas não o campo intermediário indiferente. Ao contrário, a referência ao passar ao largo é a abertura usada por deus do dilaceramento em meio a um fosso abissal; por outro lado, a referência ao homem é o deixar emergir que se apropria em meio ao acontecimento da fundação do ser-aí e, com isto, da necessidade do abrigo da verdade do SEER no ente como de uma restituição do ente. [tr. Casanova; GA65: 7]
A distância da indecidibilidade não é naturalmente algo “para além de”, mas o mais próximo do aí infundado do ser-aí, que se tornou insistente na prontidão para a recusa enquanto a essenciação do SEER. Esse mais próximo é tão próximo que todo exercício inevitável da maquinação e do vivenciado precisa ter já necessariamente passado ao largo dele e, por isto, também nunca pode ser resgatado imediatamente para ele. O acontecimento apropriador permanece o que há de mais estranho. [tr. Casanova; GA65: 7]
A fuga dos deuses precisa ser experimentada e suportada. Essa constância funda a proximidade mais distante possível do acontecimento apropriador. Esse acontecimento apropriador é a verdade do SEER. Nessa verdade abre-se pela primeira vez a indigência do abandono do ser. A partir dessa indigência, a fundação da verdade do ser e a fundação do ser-aí se tornam necessárias. Essa necessidade realiza-se na decisão constante, que atravessa de maneira dominante todo ser humano histórico: quer o homem seja futuramente alguém pertencente à verdade do ser e, assim, alguém que abriga a partir dessa copertinência e para ela a verdade como verdadeiro no ente, ou quer o começo do último homem expulse o homem para o interior da animalidade dissimulada e permaneça recusado para o homem histórico o último deus. O que acontecerá se a luta pelos critérios de medida tiver se extinguido, se o mesmo querer não quiser mais nenhuma grandeza, isto é, não apresentar mais nenhuma vontade da maior diversidade dos caminhos? [tr. Casanova; GA65: 8]
No outro início pensa-se de antemão aquele totalmente outro, que foi denominado o âmbito da decisão, no qual se conquista ou se perde o SEER histórico propriamente dito dos povos. Esse ser – a historicidade – não é nunca o mesmo em toda e qualquer era. Ele se encontra agora diante de uma mudança essencial, na medida em que ele tem como tarefa fundar aquele âmbito da decisão, aquele nexo do acontecimento apropriador, graças ao qual um ente histórico humano traz a si mesmo pela primeira vez para si mesmo. A fundação desse âmbito exige uma renúncia que é o contrário da tarefa de si. Ela só pode ser levada a termo a partir da coragem do a-bismo. Esse âmbito, se é que tal caracterização é em geral suficiente, é o ser-aí, aquele espaço intermediário, que, fundando pela primeira vez a si mesmo, confronta e defronta o homem e o deus um em relação ao outro, tornando-os próprios um ao outro. O que se abre na fundação do ser-aí é o acontecimento apropriador. Com isto, não se tem em vista um “em face de”, algo intuível e uma “ideia”, mas o acenar de lá pra cá e o manter-se na mobilidade para cá no aberto do aí, que é justamente o ponto de virada clareador e encobridor nesta viragem. Essa viragem só conquista sua verdade, na medida em que ela é contestada enquanto contenda entre mundo e terra e, assim, em que o verdadeiro é coberto no ente. Só a história, que se funda no ser-aí, tem a garantia de uma copertinência à verdade do ser. [tr. Casanova; GA65: 8]
O SEER como acontecimento apropriador – renúncia hesitante como (recusa). Maturidade: fruto e doação. O elemento nulo no SEER e o impulso contrário; querelante (SEER ou não-ser). O SEER se essencia na verdade; clareira para o encobrir-se. A verdade como essência do fundamento: fundamento – o em que fundado (não o de onde enquanto causa). O fundamento funda como a-bismo: a indigência como o aberto do encobrir-se (não o “vazio”, mas inesgotabilidade a-bissal). O a-bismo como o tempo-espaço. O tempo-espaço é o sítio instantâneo da contenda (SEER ou não-ser). A contenda como a contenda de terra e mundo, porque a verdade do SEER só é no abrigo e essa como o “entre” fundante no ente. Um contra o outro de terra e mundo. As vias e os modos do abrigo – o ente. [tr. Casanova; GA65: 9]
O SEER se essencia como acontecimento apropriador. A essenciação tem o meio e a amplitude na viragem. A exportação resolutora de contenda e réplica. A essenciação é garantida e abrigada na verdade. A verdade acontece como o encobrimento clareador. A estrutura fundamental desse acontecimento é o tempo-espaço que emerge dele. O tempo-espaço é o que desponta para as mensurações da abertura do fosso abissal do SEER. O tempo-espaço é, enquanto junção da verdade, originariamente o sítio instantâneo do acontecimento apropriador. O sítio instantâneo essencia-se a partir desse acontecimento como a contenda de terra e mundo. A contestação da contenda é o ser-aí. O ser-aí acontece nos modos do abrigo da verdade a partir da garantia do acontecimento apropriador clareado e velado. O abrigo da verdade deixa que o verdadeiro se abra e se dissimule como o ente. O ente se encontra pela primeira vez assim no SEER. O ente é. O SEER se essencia. O SEER (como acontecimento apropriador) precisa do ente, para que ele, o SEER, se essencie. O ente pode “ser” ainda no abandono do ser, sob cujo domínio a tangibilidade e a utilidade imediata, assim como a funcionalidade de todo e qualquer tipo (tudo precisa servir ao povo, por exemplo) constituem obviamente o que é sendo e o que não é. A autonomia aparente do ente em face do SEER, como se este fosse apenas um suplemento do pensamento “abstrato” representacional, porém, não é nenhum primado, mas apenas o sinal do privilégio em relação à decadência que cega. Esse ente “real e efetivo” é concebido a partir da verdade do SEER como o não-ente sob o domínio da inessência da aparência, cuja origem permanece aí encoberta. O ser-aí como a fundação da contestação da contenda em meio ao que é aberto por ela é cristalizado humanamente e sustentado na insistência que suporta o aí e que pertence ao acontecimento apropriador. O pensar do SEER como acontecimento apropriador é o pensar inicial, que prepara como confrontação com o primeiro início o outro início. O primeiro início pensa o SEER como presentidade a partir da presentação, que apresenta o primeiro reluzir de uma essenciação do SEER. [tr. Casanova; GA65: 10]
1) Acontecimento apropriador: a luz segura da essenciação do SEER no campo de visão extremo da mais íntima indigência do homem histórico. 2) O ser-aí: o entre aberto no meio e, assim, velador, entre a chegada e a fuga dos deuses e o homem nele enraizado. 3) O ser-aí tem a origem no acontecimento apropriador e em sua viragem. 4) Por isto, ele só pode ser fundado como a verdade e na verdade do SEER. 5) A fundação – não recriação – é um deixar-ser-fundamento por parte do homem, que chega, com isto, pela primeira vez, uma vez mais a si e reconquista o ser-si-mesmo. 6) O fundamento fundado é ao mesmo tempo abismo para a abertura do fosso abissal do SEER e não fundamento para o abandono do ser do ente. 7) A tonalidade afetiva fundamental da fundação é a retenção. 8) A retenção é a referência insigne, instantânea ao acontecimento apropriador no ser chamado por meio de seu conclamar. 9) O ser-aí é o acontecimento fundamental da história por vir. Esse acontecimento emerge do acontecimento apropriador e se torna um sítio instantâneo possível para a decisão sobre o homem – sua história ou não história como sua transição para o ocaso. 10) O acontecimento apropriador e o ser-aí estão em sua essência, isto é, em sua pertinência enquanto fundamento da história, ainda completamente velados e permanecerão por um longo tempo causando estranhamento. Faltam as pontes; os saltos ainda não foram levados a termo. Ainda permanece de fora a profundidade da experiência da verdade que lhes satisfazem e a meditação sobre o seu sentido: a força da decisão elevada. Em contrapartida, numerosas no caminho são apenas as ocasiões e os meios da má interpretação, porque falta mesmo o saber daquilo que aconteceu no primeiro início. [tr. Casanova; GA65: 11]
História aqui não concebida como um âmbito do ente entre outros, mas unicamente com vistas à essenciação do SEER mesmo. Assim, já em Ser e tempo, a historicidade do ser-aí precisa ser compreendida a partir da intenção ontológico-fundamental e não como uma contribuição para a filosofia da história presente à vista. [tr. Casanova; GA65: 12]
O acontecimento apropriador é a própria história originária, com o que poderia estar insinuado que aqui em geral a essência do SEER é concebida “historicamente”. A questão é: historicamente com certeza, mas não se valendo de um conceito de história, senão historicamente porque agora a essência do SEER não significa apenas a presentidade, mas a plena essenciação do a-bismo tempo-espacial e, com isto, da verdade. Juntamente com isto, vem à tona o saber em torno da unicidade do SEER. Por meio daí, contudo, não é preterida, por exemplo, a natureza, mas essa é do mesmo modo originariamente transformada. Neste conceito originário de história, conquista-se pela primeira vez o âmbito, no qual se mostra por que e como a história é “mais” do que ação e vontade. Também o “destino” pertence à história e não esgota sua essência. [tr. Casanova; GA65: 12]
O caminho para a essência da história, concebido a partir da essenciação do próprio SEER, é preparado “ontológico-fundamentalmente” por meio da fundação da historicidade sobre a temporalidade. Quer dizer, no sentido da “questão do ser” que é a única a se mostrar como diretriz em Ser e tempo: o tempo como o tempo-espaço recolhe em si a essência da história; na medida, porém, em que o tempo-espaço é o abismo do fundamento, isto é, da verdade do ser, reside em sua interpretação da historicidade a referencialidade para a essência do próprio ser. Perguntar sobre essa essência é o único empenho e não é nem uma teoria da história, nem uma filosofia da história. [tr. Casanova; GA65: 12]
Será que está determinada para nós futuramente uma história totalmente diversa daquilo que parece ser hoje considerado como história: a turva caçada às ocorrências que devoram a si mesmas e que só se deixam fixar ainda por meio do mais estridente barulho? Se é que uma história, ou seja, um estilo do ser-aí, ainda nos deve ser doado, então isto só pode ser a história velada da grande tranquilidade, na qual e como a qual o domínio do último deus abre e configura o ente. Portanto, a grande tranquilidade precisa primeiramente se abater sobre o mundo para a terra. Essa tranquilidade emerge apenas do silêncio. E esse silenciamento só desponta da retenção. Ela atravessa de maneira afinadora enquanto tonalidade afetiva fundamental a intimidade da contenda entre mundo e terra e, com isto, a contestação do ataque da apropriação em meio ao acontecimento. O ser-aí como contestação dessa contenda tem sua essência no abrigo da verdade do SEER, isto é, do último deus em meio ao ente. [tr. Casanova; GA65: 13]
Retenção como abertura para a proximidade silenciada da essência do SEER, afinando com vistas ao mais distante estremecimento do aceno que acontece apropriadoramente a partir da distância do indecidível. [tr. Casanova; GA65: 13]
Cortam de nós a palavra; não como uma ocorrência ocasional, junto à qual não teria lugar um discurso e um enunciado realizável e onde apenas o enunciar e o redizer o que já foi dito e o que é dizível não são levados a termo, mas originariamente. A palavra não ganha ainda de modo algum a palavra, por mais que ela chegue ao primeiro salto por meio de tal corte. O que corta a palavra é o acontecimento apropriador enquanto aceno e acometimento do SEER. O fato de se cortar a palavra é a condição inicial para a possibilidade que se desdobra de uma denominação originária – poética – do SEER. Linguagem e a grande tranquilidade, a proximidade simples da essência e a distância clara do ente, quando a palavra atua uma vez mais pela primeira vez. Quando chegará esse tempo? A retenção: o suportar criador no a-bismo. [tr. Casanova; GA65: 13]
Filosofia é o saber inútil, apesar de dominante. Filosofia é o questionamento terrível, mas raro acerca da verdade do SEER. Filosofia é a fundação da verdade sob a privação coetânea do verdadeiro. Filosofia é o querer de volta que se lança em direção ao início da história e, assim, o querer para além de si. Por isto, considerada de fora, a filosofia é apenas um adorno, talvez uma peça doutrinária e uma peça de exposição da cultura, talvez ainda uma peça hereditária, cujo fundamento se perdeu. É assim que os muitos precisam considerar a filosofia precisamente lá onde e no momento em que ela se mostra para os poucos como uma necessidade. [tr. Casanova; GA65: 14]
“Visão de mundo” é sempre “maquinação” em face do que é legado pela tradição para a sua superação e controle com os meios que lhe são próprios e que são por ela preparados, mas que não chegaram a alcançar um equilíbrio – tudo levado para o cerne da “vivência”. Filosofia tem como fundação da verdade do SEER a origem nela mesma; ela precisa retornar a si mesma naquilo que ela funda e e-dificar unicamente a partir daí. Filosofia e visão de mundo são tão incomparáveis, que não há para a concretização plástica dessa diversidade nenhuma imagem possível. Toda imagem continuaria trazendo as duas para muito próximo uma da outra. [tr. Casanova; GA65: 14]
A questão é que, na medida em que e logo que a filosofia se reencontra em sua essência inicial (no outro início) e a questão acerca da verdade do SEER se torna o meio fundante, desentranha-se o elemento abissal da filosofia, que precisa retornar ao inicial, para trazer ao espaço livre de sua meditação a abertura do fosso abismai e o para-além-de-si, o estranho e constantemente inabitual. [tr. Casanova; GA65: 14]
A meditação sobre o caráter do povo é uma travessia essencial. Assim como não podemos nos esquecer disso, também precisamos saber que um nível hierárquico maximamente elevado do SEER precisa ser conquistado por meio da luta, se é que um “princípio autenticamente popular” deve ser dominado como normativo para o ser-aí histórico em meio à sua colocação em jogo. [tr. Casanova; GA65: 15]
O povo só se torna povo, quando os seus elementos mais únicos surgem e quando esses começam a pressentir. Assim, o povo só se torna livre para a lei a ser conquistada por meio da luta como a última necessidade de seu instante extremo. A filosofia de um povo é aquilo que torna povo o povo de uma filosofia, que funda o povo historicamente em seu ser-aí e determina para a guarda da verdade do SEER. [tr. Casanova; GA65: 15]
A filosofia “de” um povo não se deixa, por isto, computar e receber prescrições a partir de disposições e de capacidades quaisquer, mas, ao contrário, popular é aqui o pensar sobre a filosofia apenas, quando ele concebe que a filosofia tem de saltar por sobre sua origem mesma mais própria e isto nunca pode acontecer senão se a filosofia em geral ainda pertencer ao seu primeiro início essencial. Somente assim ela consegue voltar o “povo” para a verdade do SEER, ao invés de, inversamente, ser cultivada de maneira indigente para a sua inessência por um suposto povo como um povo que é. [tr. Casanova; GA65: 15]
A filosofia é o saber imediatamente inútil, mas, não obstante, um saber dominante a partir da meditação. Meditação é questionamento acerca do sentido, isto é, acerca da verdade do SEER. O questionamento acerca da verdade é o salto para o interior de sua essência e, com isto, para o interior do SEER mesmo. A questão é: se, quando e como somos pertencentes ao ser (como acontecimento apropriador). Essa questão precisa ser questionada por causa da essência do ser, que precisa de nós, e, em verdade, não como aqueles que se encontram precisamente ainda presentes, mas de nós, na medida em que nós ratificamos insistentemente suportando o ser-aí e o fundamos como a verdade do SEER. Por isto, a meditação – salto para o interior da verdade do ser – é necessariamente auto-meditação. Isto não significa consideração voltada para trás de nós como “dados”, mas fundação da verdade do ser si mesmo a partir da propriedade do ser-aí. [tr. Casanova; GA65: 16]
A questão de saber se somos pertencentes ao ser também é, de acordo com o que foi dito, em si a questão acerca da essência do SEER. Essa questão acerca do pertencimento é uma questão decisiva entre o pertencimento a ser primeiro determinado e o abandono do ser como o enrijecimento com vistas ao não-ente como a aparência do ente. [tr. Casanova; GA65: 16]
A filosofia nunca se constrói imediatamente junto ao ente, ela prepara a verdade do ser e se encontra concomitantemente preparada com as perspectivas e os campos de visão que se abrem aí. A filosofia é uma junção fugidia no ente como a disposição, que se ajunta ao SEER, sobre a sua verdade. [tr. Casanova; GA65: 16]
Toda necessidade enraíza-se em uma uma indigência. A filosofia como a primeira e mais extrema meditação sobre a verdade do SEER e o SEER da verdade tem sua necessidade na indigência primeira e mais extrema. Essa indigência é aquilo que impulsiona o homem de um lado para o outro no ente e que o traz pela primeira vez para diante do ente na totalidade e para o meio do ente, levando-o, assim, a si mesmo, e, com isto, deixando iniciar ou perecer respectivamente a história. Esse elemento impulsionador é o caráter de jogado do homem no ente, que o determina como o que joga o ser (a verdade do SEER). [tr. Casanova; GA65: 17]
O jogador jogado leva a termo o primeiro lance, isto é, o lance fundador como projeto do ente com vistas ao SEER. No primeiro início, como o homem consegue se colocar pela primeira vez efetivamente diante do ente, o próprio projeto, seu modo de ser e sua necessidade e indigência ainda são obscuros, velados, e, apesar disto, poderosos: physis – aletheia – hen – pan – logos – noûs – polemos – me ón – dike – adikia. [tr. Casanova; GA65: 17]
A indigência como aquele elemento que impele de um lado para o outro aquilo que impõe pela primeira vez a decisão e a cisão do homem como um ente com ente e em meio a si e, uma vez mais, de volta a ele. Essa indigência pertence à verdade do SEER mesmo. Da maneira mais originária, ela é indigência na coerção para a necessidade das possibilidades extremas, por cujos caminhos o homem criando – fundando para além de si, retorna ao fundamento do ente. Onde essa indigência se eleva ao extremo, ela impõe o ser-aí e sua fundação. [tr. Casanova; GA65: 17]
A indigência, aquele elemento que impele de um lado para o outro, essenciante – o que aconteceria se a verdade do SEER mesmo fosse, o que aconteceria se, com a fundação originária da verdade, se tornasse ao mesmo tempo mais essenciante o SEER – como acontecimento apropriador? E se as coisas se derem assim e a indigência for mais compelidora, se ela impelir mais de um lado para o outro, mas o impulso for nessa violência apenas aquela contenda, que teria na desmedida da intimidade do ente e do SEER seu fundamento que se recusa? [tr. Casanova; GA65: 17]
A impotência do pensar compreendida no sentido habitual tem muitas razões: 1) O fato de, por agora, não ser levado a termo, nem poder ser levado a termo nenhum pensar essencial. 2) O fato de maquinação e vivência pretenderem ser a única coisa efetiva e, com isto, poderosa, não havendo nenhum espaço para o poder autêntico. 3) O fato de nós, supondo que tenha sucesso um pensar essencial, não termos ainda a força para nos abrirmos para a sua verdade, porque pertence a tal força uma posição hierárquica própria da existência. 4) O fato de, em meio ao embotamento crescente em relação à simplicidade de uma meditação essencial e em meio à falta de persistência no questionamento, se desconsiderar todo curso e todo caminho, se ele já não traz consigo no primeiro passo um “resultado”, com o que passa a haver algo para “fazer” e algo para “vivenciar”. Por isto, a “impotência” ainda não é imediatamente uma objeção ao “pensar”, mas apenas aos seus desprezadores. E, por outro lado, o poder autêntico do pensar (como um re-pensar da verdade do SEER) não tolera nenhuma constatação e valoração imediatas, sobretudo porque o pensar precisa se transpor para o interior do SEER e, por isto, precisa colocar em jogo toda a estranheza do SEER. Assim, ele nunca pode se basear no sucesso de um efeito no ente. [tr. Casanova; GA65: 18]
Este é o fundamento maximamente velado para a solidão do questionar pensante. A solidão com frequência evocada do pensador é apenas uma consequência, isto é, ela não surge de um retirar-se, de uma saída de…, mas emerge da proveniência a partir do âmbito do SEER. Por isto, ela também nunca chega a ser afastada por meio de “efeitos” e “sucessos” de um pensador – por meio daí, ela é apenas intensificada, se é que faz algum sentido falar aqui de intensificação. [tr. Casanova; GA65: 18]
(Sobre a pergunta: quem somos nós?) Como meditação sobre o SEER, a filosofia é uma automeditação necessária. A dita fundamentação desse nexo distingue-se essencialmente de todo e qualquer tipo de asseguramento da certeza de “si mesmo” do “eu” justamente em virtude da “certeza”, não da verdade do SEER. Mas ela também remonta ainda a um âmbito mais originário do que aquele que precisou levar a termo na transição o posicionamento “ontológico-fundamental” do ser-aí em Ser e tempo, posicionamento esse que ainda agora não foi desdobrado de maneira suficiente e elevado ao saber daqueles que questionam. [tr. Casanova; GA65: 19]
Abstraindo-se da questão sobre o quem, quem é que temos em vista com o “nós”?. Nós mesmos, que estamos agora presentes à vista, os homens aqui e agora? Onde é que transcorre o círculo demarcador? Ou temos em vista “o” homem enquanto tal? Mas “o” homem só “é” enquanto histórico e a-histórico. Nós visamos a nós mesmos como o próprio povo? Mas mesmo então, não somos os únicos, mas, enquanto povo, somos com outros povos. E por meio do que se determina a essência de um povo? Ao mesmo tempo fica claro: o modo como na questão é estabelecido o questionado, “nós”, já contém uma decisão sobre o quem. Isto quer dizer: nós não podemos, sem sermos tocados pela pergunta sobre o quem, estabelecer o “nós” e o “nos” por assim dizer como algo presente à vista, para o qual apenas falta ainda a determinação do quem. Mesmo nessa questão reside um reflexo da viragem. Ela não pode ser nem formulada, nem respondida. No entanto, enquanto a essência da filosofia não for concebida como meditação sobre a verdade do SEER, e, com isso, a necessidade da auto-meditação daí emergente não tiver se tornado efetiva, a questão já permanecerá exposta enquanto questão a uma pesada reserva. [tr. Casanova; GA65: 19]
A meditação enquanto auto-meditação, tal como ela se torna necessária aqui a partir do questionamento acerca da essência do SEER, está longe daquela clara et distincta perceptio, na qual o ego desponta e se torna certo. Como só a ipseidade – os sítios instantâneos da conclamação e da copertinência – precisa ser colocada em decisão, não se tem como conceber na transição o que lhe cabe. [tr. Casanova; GA65: 19]
Sobretudo a questão: quem somos nós precisa permanecer pura e simplesmente inserida no questionamento da questão fundamental: como se essencia o SEER? [tr. Casanova; GA65: 19]
O que é, contudo, o início do pensar – no significado da meditação sobre o ente enquanto tal e sobre a verdade do SEER? [tr. Casanova; GA65: 20]
O repensar da verdade do SEER é essencialmente pro-jeto. À essência de tal projeto pertence o fato de, em performance e no desdobramento de si mesmo, ele precisar se recolocar no que é aberto por meio de si. Assim, é possível que desponte a aparência de que: onde impera o projeto, aí haja arbítrio e um divergir em direção ao infundado. Mas o projeto traz a si mesmo precisamente para o fundamento e muda, assim, pela primeira vez a si mesmo para o interior da necessidade, com a qual ele está ligado de modo fundamental, ainda que ainda se encontre velado diante de sua execução. [tr. Casanova; GA65: 21]
O projeto da essência do SEER é apenas resposta à conclamação. Desdobrado, o projeto perde toda aparência do que tem o seu poder em si e nunca se torna o perder-se e a entrega. Seu aberto é apenas o disponível na fundação formadora de história. O que é projetado no projeto se apodera superpotencializadoramente dele mesmo e o coloca em seu direito. [tr. Casanova; GA65: 21] [O pensar inicial] É o repensar da verdade do SEER e, assim, a sondagem do solo do fundamento. No repousar sobre o fundamento, abre-se pela primeira vez a sua força fundante, reunidora e retentora. Como é, porém, que o re-pensar do SEER se mostra como um repousar? Na medida em que ele abre o que há de mais digno de questão, ele leva a termo a dignificação e, com isto, a mais elevada transfiguração daquilo em que repousa o questionamento, isto é, daquilo em que ele não cessa. Pois senão ele, o questionamento, não poderia repousar como o que abre. [tr. Casanova; GA65: 22]
O que é, portanto, o início, de tal modo que ele pode se tornar o mais elevado de todo ente? Ele é a essenciação do próprio ser. Mas esse início só é realizável como o outro na confrontação com o primeiro. O início – compreendido inicialmente – é o próprio SEER. E, de acordo com ele, o pensar também é mais originário do que um re-presentar e um julgar. [tr. Casanova; GA65: 23]
O início é o SEER mesmo como acontecimento apropriador, o domínio velado da origem da verdade do ente enquanto tal. E, enquanto o acontecimento apropriador, o SEER é o início. [tr. Casanova; GA65: 23]
O pensar inicial é: 1) Deixar viger o SEER a partir do dizer silenciador da palavra conceptiva no ente. (Construir nessa montanha). 2) A prontidão dessa construçã