Opfer
E preciso que seja preservada a verdade do ser [Wahrheit des Seins], aconteça o que acontecer ao homem e a todo ente [Seiende]. O sacrifício é destituído de toda violência porque é a dissipação da essência do homem – que emana do abismo da liberdade – para a defesa da verdade do ser para o ente. No sacrifício se realiza [ereignet] o oculto reconhecimento, único capaz de honrar o dom em que o ser se entrega à essência do homem [Wesen des Menschen], no pensamento, para que o homem assuma, na referência ao ser, a guarda do ser. [MHeidegger POSFACIO]
Mas de que outro modo encontraria, um dia, uma humanidade o caminho para o reconhecimento originário que não pelo fato de o favor do ser oferecer ao homem, pela aberta referência a si mesma, a nobreza do despojamento, no qual a liberdade do sacrifício esconde o tesouro de sua essência? O sacrifício é a despedida do ente em marcha para a defesa do favor do ser [Gunst des Seins]. O sacrifício pode, sem dúvida, ser preparado e servido pelo agir e produzir na esfera do ente, mas jamais pode ser por ele realizado. Sua realização emana da in-sistência [Inständigkeit] a partir da qual todo homem historial age – também o pensamento essencial é um agir – protegendo o ser-aí instaurado para a defesa da dignidade do ser [Würde des Seins]. Esta in-sistência é a impassibilidade que não permite que seja contestada a oculta disposição para a despedida própria de cada sacrifício. O sacrifício tem sua terra natal na essência daquele acontecimento que é o ser chamando o homem para a verdade do ser. É por isso que o sacrifício não admite cálculo algum pelo qual seria calculada sua utilidade, sejam os fins visados mesquinhos ou elevados. Tal cálculo desfigura a essência do sacrifício. A mania dos fins confunde a limpeza do respeito humilde (preparado para a angústia [Angst]) da coragem para o sacrifício, que presume morar na vizinhança do indestrutível. [MHeidegger POSFACIO]