Romano (1999:29) – voz da consciência

Uma análise análoga (breve9249) poderia ser conduzida para o chamado da consciência: nesse lugar central da análise existencial, uma vez que envolve o testemunho (Bezeugung) pelo Dasein de seu próprio poder-ser, encontramos, de fato, a mesma redução do acontecimento, indispensável para a iluminação do significado ontológico da consciência (Gewissen). Por um lado, de fato, “nem a chamada, nem o ato realizado, nem a dívida contraída são acontecimentos (Vorkommnisse) com o caráter do ser subsistente que se desdobra” (SZ:265); por outro lado, e acima de tudo, a consciência “não dá nenhuma informação sobre os acontecimentos do mundo (Weltereignisse)” (SZ:291) e não imputa ao Dasein nenhuma falta particular da qual ele tenha sido culpado. É o Impessoal (das Man), e somente ele, que entende o chamado como um “fato” ou um “acontecimento” vindo de uma voz estrangeira (fremde); mas é, ao contrário, porque o chamado não é nem um fato nem um acontecimento que ele pode ser esse apelo silencioso que o Dasein dirige a si mesmo, a partir da estranheza (Unheimlichkeit) de seu ser-no-mundo: não é outra coisa senão a preocupação angustiada que chama a si mesma do poder-ser insuperável da morte para assumir seu ser-dever factício (Schuldigsein). Formalmente, então, ela é idêntica ao fenômeno da resolução e fornece à ipseidade seu fundamento existencial. Mais uma vez, é a redução fenomenológica do chamado e sua subordinação ao possível que o próprio Dasein é, na antecipação resoluta da morte, que torna possível uma compreensão adequada de suas estruturas ontológicas.

(ROMANO, Claude. L’événement et le monde. Paris: PUF, 1999)