Como uma primeira aproximação, propomos o termo “instituição simbólica” para substituir “cultura”, porque “cultura” sempre foi classicamente oposta à “natureza”, e porque as chamadas culturas arcaicas — isto é, culturas não marcadas pela instituição da filosofia — não pensaram ou elaboraram essa oposição como tal. Para nós, o que é “natureza” está completamente integrado ao campo da “cultura”, sendo a “natureza”, a physis, desde os fisiologistas jônicos, uma instituição filosófica e, mais ainda, a física que a estuda, que surge com Aristóteles antes de ser revivida, de forma bastante diferente, na era moderna. Por instituição simbólica, então, queremos dizer, em primeiro lugar e acima de tudo, no sentido mais amplo do termo, o conjunto coeso de “sistemas” simbólicos (linguagens, práticas, técnicas, representações) que “mapeiam” ou codificam o ser, o agir, as crenças e o pensar dos seres humanos, sem que os seres humanos jamais tenham “decidido” (deliberadamente) fazê-lo, razão pela qual usamos o termo anônimo “instituição”, necessário para entender o que, por meio da instituição, sempre parece ser “dado” de outro lugar. Seu paradoxo fundamental, então, é que ela sempre parece já estar constituída, antes de mais nada e, na maioria das vezes, despercebida como tal, nunca se revelando com sua origem e, ao mesmo tempo, sendo objeto de múltiplas aprendizagens, nunca exaustivas em nenhum caso — esse é o nervo da educação humana, que sabemos ser infinita e nunca pode levar à onisciência e à onisapiência. Nesse sentido também, a instituição simbólica que mantém a humanidade (um grupo étnico, uma sociedade) unida e a torna reconhecível não é um “sistema” fechado — como o estruturalismo nos ilude — assim como os diferentes “sistemas” que podem ser discernidos dentro dela (linguagem, técnicas, mitos etc.) para fins de análise. Portanto, tudo é mantido junto, enigmaticamente, e há tanta instituição simbólica em uma ferramenta quanto em uma linguagem, no layout do espaço quanto nas histórias de origens. A instituição simbólica é, portanto, como uma “totalidade” sem um exterior, e suas “partes” são sempre “partes totais”. Seu não fechamento aparece no fato de que ela nunca está em coincidência consigo mesma (tal era a ilusão do estruturalismo, uma ilusão necessária para constituir a cultura, ou tal e tal “parte” da cultura, como um “objeto” identificável), que ela é em si mesma e para si mesma, da mesma forma enigmática, aberta às questões insondáveis de sua contingência. Isso sempre a leva, nos próprios termos que ela parece dar de si mesma e para si mesma, ao trabalho pensante, mais propriamente humano, de sua elaboração simbólica como uma explicação de seus termos. Se não há homem sem uma instituição simbólica, Portanto, é também o caso de que o homem é um ser de significado, e que isso é, em seu sentido mais geral, sua facticidade, em um sentido quase heideggeriano (mas sem que o significado seja a priori redutível a um sentido de ser ou a um sentido de ser). Em outras palavras, isso equivale a pensar que a base última da instituição simbólica, a maneira pela qual ela se une ou ecoa o campo fenomenológico, é, apesar do acúmulo de determinações (de códigos e usos de códigos) que ela significa, sempre indeterminação: Por exemplo, sempre achamos que “sabemos” do que estamos falando, mas a experiência da vida nos ensina, ao longo dos tempos, que quanto mais avançamos, menos “sabemos” de fato do que se trata precisamente e, em última análise, tal e tal palavra, se não for trivial.