Richardson (2003:589-590) – Morada

Mais uma vez, a palavra “morada” designa a estrutura fundamental do Ser-aí, à medida que ele se aproxima dos entes. Agora, porém, a concepção é desenvolvida por uma nova metáfora. O poema de Hölderlin que Heidegger interpreta aqui lhe permite dizer que, se o homem mora “na terra”, ele também olha para o “céu”. Portanto, ele efetivamente mora “entre” o céu e a terra, assim como vimos que o poeta é um semi-deus porque mora “entre” o homem e os deuses. Essa maneira de pensar permite que Heidegger fale desse “entre” como uma espécie de “espaço ontológico” (o termo não é de Heidegger) que ele chama de “Dimensão”. Sustentando a metáfora – se é que ela existe – o autor fala dessa Dimensão como algo que admite “medida”, e como o homem, como ser intermediário, habita a Dimensão, é sua tarefa fazer a medição. (GA7:VA:189)

A nova terminologia em si não é tão importante para nós, pois parece ter sido ditada pelo poema em questão. O mais importante é ver que estamos lidando com o mesmo velho problema, a relação entre Ser e Existir. Já sabemos que a Quadratura (Geviert) designa o Ser em sua polivalência. Falar de Dimensão como um Espaço ontológico entre dois membros do Quadrado não muda muito as coisas. Além disso, o Quadrado é preenchido logo após a menção de “Deus” e do poeta. A dimensão, portanto, ainda é o Ser em sua polivalência. Além disso, ela é mensurável apenas porque está iluminada. Assim, a nova metáfora comporta até mesmo a noção familiar de luz. (GA7:VA:195)

Se nos voltarmos agora para o homem, nos é dito: que é somente “… medindo (a Dimensão que) o homem é antes de tudo homem… ” que ele “… é na medida em que suporta a Dimensão… ” que “… somente na medida em que o homem, dessa forma, mede sua morada, ele pode estar de acordo com sua essência. …” Tudo isso se soma à descrição do que já sabemos sobre o relacionamento do Ser-aí com Ser, em termos da nova terminologia de “medição”. Obviamente, é ao realizar plenamente a função de medição que Ser-aí habita autenticamente na proximidade das coisas. O ponto crucial, então, é: como compreender esse processo de medição pelo qual o homem alcança a autenticidade?