razão

logos
ratio
Vernunft
raison
reason

J — É porque a própria língua repousa sobre a distinção metafísica entre sensível e não-sensível, uma vez que os elementos fundamentais, fonema e grafema, de um lado, e significado e sentido, do outro, sustentam toda estrutura da língua.

P — Ao menos no âmbito da representação europeia. Será que é assim também no Japão?

J — Na verdade, dificilmente pode ser assim. Grande, no entanto, é a tentação de recorrer aos préstimos da representação europeia e de seus conceitos, como mencionei acima.

P — É uma tentação fortalecida pelo processo que chamaria de total europeização da terra e dos homens.

J — Muitos veem neste processo o triunfo da razão. No final do século XVIII, durante a Revolução Francesa, a razão foi aclamada como deusa.

P — Sem dúvida. E se vai tão longe no endeusamento dessa divindade que não se sabe fazer outra coisa do que acusar de irracional todo pensamento que recuse a originariedade das pretensões racionais.

J — Os êxitos da racionalidade, que o progresso da técnica nos coloca a cada instante diante dos nossos olhos, parecem confirmar o domínio inviolável da razão europeia.

P — A cegueira cresce a ponto de já não se poder ver como a europeização do homem e da terra faz secar a própria fonte do que é essencial. Como se isso fosse possível. [GA12]


O enunciado é um modo de legein – dirigir-se a qualquer coisa, enquanto qualquer coisa. Isto significa: acolher qualquer coisa como tal. Ter qualquer coisa como qualquer coisa e entrega-la como tal, diz-se, em latim, reor, ratio: daí ratio se ter tornado a tradução de logos. O simples enunciado dá, ao mesmo tempo, a forma fundamental em que visamos a coisa e pensamos algo acerca dela. A forma fundamental do pensamento e, em consequência, o pensar, é o fio condutor da determinação da coisalidade da coisa. As categorias determinam, em geral, o Ser dos entes. Perguntar pelo Ser dos entes, pelo que é e como é, em geral, o ente, é a primeira tarefa da filosofia; perguntar deste modo é filosofia do mais alto nível, é primeira e autêntica filosofia, prote philosophia, prima philosophia. Eis o que é essencial: o pensamento como simples enunciar, o logos, a ratio, é o fio condutor para a determinação do Ser do ente, quer dizer, para a determinação da coisalidade da coisa. «Fio condutor» tem, aqui, o seguinte significado: os modos de enunciabilidade conduzem o olhar em direcção à determinação da presença, quer dizer, em direcção ao Ser dos entes. logos e ratio foram traduzidos por razão. [►OQC 71]


‘Com os belos sentimentos faz-se a má literatura.” “C’est avec les beaux sentiments que l’on faít la mauvaise litterature.” Esta palavra de André Gide não vale só para a literatura; vale ainda mais para a filosofia. Mesmo os mais belos sentimentos não pertencem à filosofia. Diz-se que os sentimentos são algo de irracional. A filosofia, pelo contrário, não é apenas algo racional, mas a própria guarda da ratio. Afirmando isto decidimos sem querer algo sobre o que é a filosofia. Com nossa pergunta já nos antecipamos à resposta. Qualquer uma terá por certa a afirmação de que a filosofia é tarefa da ratio. E, contudo, esta afirmação é talvez uma resposta apressada e descontrolada à pergunta: Que é isto — a filosofia? Pois a esta resposta podemos contrapor novas questões. Que é isto — a ratio, a razão? Onde e por quem foi decidido o que é a razão? Arvorou-se a ratio mesma em senhora da filosofia? Em caso afirmativo, com que direito? Se negativa a resposta, de onde recebe ela sua missão e seu papel? Se aquilo que se apresenta como ratio foi primeiramente e apenas fixado pela filosofia e na marcha de sua história, então não é de bom alvitre tratar a priori a filosofia como negócio da ratio. Todavia, tão logo pomos em suspeição a caracterização da filosofia como um comportamento racional, torna-se, da mesma maneira, também duvidoso se a filosofia pertence à esfera do irracional. Pois quem quiser determinar a filosofia como irracional, toma como padrão para a determinação o racional, e isto de um tal modo que novamente pressupõe como óbvio o que seja a razão. [MHeidegger – Qu’est-ce que la philosophie? 28]


Aristóteles di-lo, fazendo referência às prótai arkhai kai aitíai. Costuma-se traduzir: “as primeiras razões e causas” – a saber, do ente. As primeiras razões e causas constituem assim o ser do ente. Após dois milênios e meio me parece que teria chagado o tempo de considerar o que afinal tem o ser do ente a ver com coisas tais como “razão” e “causa”.
Em que sentido é pensado o ser para que coisas tais como “razão” e “causa” sejam apropriadas para caracterizarem e assumirem o sendo-ser do ente? [MHeidegger – Qu’est-ce que la philosophie? 33]