Perguntamos: que é isto…? Em grego isto é: ti estin. A questão [Frage] relativa ao que algo seja permanece, todavia, multívoca [mehrdeutig]. Podemos perguntar, por perguntar, por exemplo: que é aquilo lá longe? Obtemos então a resposta: uma árvore. A resposta consiste em darmos o nome [Namen] a uma coisa [Ding] que não conhecemos exatamente.
Podemos, entretanto, questionar mais: que é aquilo que designamos “árvore”? Com a questão agora posta avançamos para a proximidade do ti estin grego. E aquela forma de questionar desenvolvida por Sócrates, Platão e Aristóteles. Estes perguntam, por exemplo: Que é isto — o belo [Schöne]? Que é isto — o conhecimento [Erkenntnis]? Que é isto — a natureza [Natur]? Que é isto — o movimento [Bewegung]?
Agora, porém, devemos prestar atenção para o fato de que nas questões acima não se procura apenas uma delimitação mais exata do que é natureza, movimento, beleza [Schönheit]; mas é preciso cuidar para que ao mesmo tempo se dê uma explicação [Auslegung] sobre o que significa o “que”, em que sentido [Sinn] se deve compreender o ti. Aquilo que o ‘que’ significa se designa o quid est, to quid: a quidditas, a quididade. Entretanto, a quidditas se determina diversamente nas diversas épocas da filosofia. Assim, por exemplo, a filosofia de Platão é uma interpretação característica daquilo que quer dizer o ti. Ele significa precisamente a idea. O fato de nós, quando perguntamos pelo ti, pelo quid, nos referimos à “idea” não é absolutamente evidente. Aristóteles dá uma outra explicação do ti que Platão. Outra ainda dá Kant e também Hegel explica o ti de modo diferente. Sempre se deve determinar novamente aquilo que é questionado através do fio condutor que representa o ti, o quid, o “que”. Em todo caso: quando, referindo-nos à filosofia, perguntamos: que é isto?, levantamos uma questão originariamente grega. [GA11; MHeidegger]