positivismo

Pelos meados do século XIX, levantou-se o apelo do «regresso» a Kant. Este regresso a Kant resultou de uma nova situação histórica e espiritual; ao mesmo tempo, o regresso a Kant foi determinado pelo afastamento em relação ao Idealismo Alemão. Aquela situação espiritual dos meados do século XIX tem, como caracterização essencial, o domínio acentuado de uma particular configuração da ciência: ele é indicado pelo termo «positivismo». Trata-se de um saber cuja reivindicação de verdade tem a sua primeira e última medida no que se chama «fatos». Acerca dos fatos — diz-se — não se discute; eles são a mais alta instância para decidir acerca da verdade ou da não-verdade. O que se prova, nas ciências da natureza, através de experiências e o que, nas ciências históricas do espírito, é documentado por manuscritos e textos, é verdadeiro. Isto quer aqui dizer: é o único verdadeiro legitimável como saber. [GA41]


O que caracteriza o positivismo (no qual desde há decênios nos encontramos e hoje mais do que nunca) é, pelo contrário, ele pensar que lida com fatos, ou com fatos diferentes e novos, enquanto os conceitos são apenas expedientes, de que se necessita de qualquer modo, mas com os quais não nos devemos relacionar demasiado — pois isso seria filosofia. O cômico ou, dito com mais exatidão, o trágico, na situação científica do presente é, em primeiro lugar, pensar que é possível superar-se o positivismo através do positivismo. Certamente, esta posição somente domina onde é executado o trabalho mediano e acessório. Onde acontece a investigação autêntica e inovadora, aí a situação não é diferente do que era há trezentos anos atrás; também essa época tinha a sua estupidez própria, tal como, ao invés, as principais cabeças da física atômica, Niels Bohr e Heisenberg, pensam de um modo totalmente filosófico e somente desse modo elaboram as novas interrogações e se detêm, antes de tudo, no que é digno de questão. [GA41]