Polt (2013:55-56) – crítica dos padrões de dação

Heidegger usa a palavra beingness (esseralidade) para se referir a esses padrões da dação dos entes conforme são descritos pela metafísica tradicional. A metafísica pressupõe que descrever os padrões é encontrar as características mais universais daquilo que é. Heidegger tem quatro críticas a essa abordagem.

1. A metafísica pressupõe que os entes nos são dados principalmente por meio de asserções teóricas, por isso é dominada pela lógica (as regras do discurso teórico). Mas, na verdade, os entes nos são dados pré-teoricamente por meio de fenômenos como o humor, a ação e o discurso não teórico. A asserção sempre depende de modos mais profundos de descobrir e interpretar os entes (GA65:457, cf. SZ §33).

2. A aparente multiplicidade de padrões revelados pela metafísica reduz-se à (ou pelo menos está centrada na) presença e, mais especificamente, à presença à mão (Vorhandenheit (ser-simplesmente-dado)). Por exemplo, para Aristóteles, embora o ser não seja unívoco (GA65:469), o sentido central do ser é a atualidade de uma substância, sua presença à mão. Mas a presença à mão é apenas um modo de ser, o modo que é revelado pela asserção teórica (SZ §69b)

3. Há uma tendência de misturar a busca pelos padrões de beingness (esseralidade) com a busca por uma entidade suprema, a entidade que exemplifica mais plenamente o que significa ser e também funciona como uma primeira causa para os entes como um todo. Assim, a metafísica se torna “ontoteologia”. Nesse ponto, a própria distinção entre entes e ser corre o risco de ser obliterada.

4. Como vimos, embora a metafísica tente descobrir estruturas que são anteriores a entes particulares, a concepção metafísica do ser é, de fato, apenas um apêndice dos entes (GA65:111-12, 183, 293, 425-26, 458). A metafísica toma os entes como garantidos e, em seguida, tenta encontrar suas características mais universais. As estruturas supostamente a priori descobertas por esse procedimento dependem, na verdade, de uma concessão prévia dos entes. Embora a metafísica possa ter começado a se maravilhar com essa inerência dos entes — o que chamei de momento (b) —, essa maravilha há muito tempo foi extinta, em vez de ser radicalizada em maravilha com a inerência do sentido do ser — momento (e).

(POLT, Richard F. H. The emergency of being: on Heidegger’s contributions to philosophy. Ithaca, NY: Cornell Univ. Press, 2013)