Há diferenças importantes entre Heidegger e Rosenzweig em sua discussão sobre o “nada”. Rosenzweig afirma que “a liberdade de Deus nasceu da negação original do Nada” (Estrela da Redenção. SE, 32 (E, 29)). Heidegger se opõe a essa definição religiosa: “ex nihilo fit – ens creatum” força o nada a ‘tornar-se o contraconceito do ser’ enquanto a verdadeira ‘questão do nada’ ainda não foi colocada (GA9:WM English, 110). Mas parece que Rosenzweig e Heidegger estão, pelo menos, operando em um horizonte intelectual comum. Para cada um deles, a metafísica agora designa o oposto da ciência, e somente a metafísica pode descobrir adequadamente o “nada” como a origem do Ser. A filosofia tradicional como ciência nega que esse “nada” tenha um lugar e se recusa, como Rosenzweig diz timidamente, a ver que o nada é de fato “algo”. Assim, a filosofia cria para si mesma a ilusão de que é autossuficiente ou infinita em seu escopo. Mas essa autossuficiência é uma ilusão, como revela o “nada”. Até mesmo a “transcendência” sofre agora uma inversão de seu significado convencional: “O ser em si”, conclui Heidegger, ‘é essencialmente finito (endlich) e se revela (sich… offenbart) somente na transcendência do Dasein que é mantida no nada’ (WM English, 110).
(GORDON, Peter E. Rosenzweig and Heidegger: between Judaism and German philosophy. Berkeley: University of California press, 2003)