Quando pergunto, por exemplo: O que é o ser? Por que é que existe algo e não existe nada? Quem sou eu? Que é justamente o que eu quero? – estas perguntas não as fazia, ao princípio. Ponho-as partindo de uma situação em que, em consequência de um certo passado, me encontro agora. No despertar da consciência de mim mesmo, descubro-me num mundo onde me oriento; tinha pegado nas coisas e, depois, deixara-as ficar; tudo caminhava por si e tudo estava simplesmente presente. Mas agora, surpreso e admirado, pergunto a mim mesmo o que é que existe propriamente; pois tudo, absolutamente tudo, é efêmero; eu não estava no começo e não estou no fim. Situado entre o começo e o fim, interrogo-me sobre um e outro.
(Philosophie, I, págs. 1-2)
Partindo de uma realidade histórica e de dados cognoscíveis, partindo do mundo, nenhuma compreensão satisfatória de mim próprio, ser em situação, é possível; menos ainda uma compreensão do mundo a partir da minha situação. A pesquisa filosófica, que começa por esclarecer a situação, é instável, porque a situação também é movimento sem repouso, pois depende conjuntamente do devir universal e das decisões da liberdade. É por isso que, malgrado toda a precisão do detalhe, a situação, como a pesquisa filosófica, continua inacabada como totalidade.
(Philosophie, I, págs. 1-2)