Escutemos mais atentamente! A afirmação diz que o gravíssimo é o fato de que ainda não pensamos. A afirmação não diz, nem que não mais pensamos, nem diz redondamente que não pensamos de maneira alguma. O “ainda não”, dito com ponderação, aponta para o fato de que, presumivelmente de longe [weither vermutlich], já estamos a caminho em direção ao pensar, não apenas a caminho em direção do pensar como um proceder algum dia [dereinst] exercitado, mas a caminho no pensar, no caminho do pensar.
De acordo com isso, a nossa afirmação traz um raio de luz no obscurecimento, que parece não só pesar sobre o mundo provindo de algum lugar, mas que é como que arrastado pelos homens para junto de si. A nossa afirmação denomina o tempo atual, sem dúvida, como grave. Com essa palavra queremos designar sem alusões nocivamente adjacentes [abträglichen Nebenton] aquilo que nos dá o que pensar, a saber, o que quer ser pensado. O grave, entendido assim, não precisa ser de modo algum o que suscita preocupação ou algo perturbador, pois o agradável também nos dá o que pensar, também o belo, também o misterioso, também o afável. Talvez o que agora nomeamos até dê mais o que pensar do que todo o resto, que sem muito pensar costumamos denominar como o grave. O que há pouco mencionamos nos dá o que pensar apenas se nós já não rechaçamos o dom por tomarmos o agradável, o belo, o afável meramente como aquilo que deve ser reservado ao sentimento e à vivência e permanecer afastado da corrente de ar do pensar. Apenas então, quando nos relacionamos com o misterioso e o generoso como aquilo que propriamente dá o que pensar, nós poderemos também refletir sobre o que considerar sobre o maligno do mal. [GA8PS:140-141]
Para que o pensamento esteja em nosso poder, devemos aprendê-lo. O que é aprender? É fazer que o que fazemos e não fazemos seja o eco da revelação cada vez do essencial. Aprendemos o pensamento prestando atenção ao que exige de ser guardado no pensamento.
Nossa língua nomeia por exemplo o que pertence à essência do amigo: o amável. Da mesma maneira, nomearemos agora o que em si exige de ser guardado no pensamento: o pensável (das Bedenkliche). Todo pensável dá a pensar. Mas não faz jamais este dom enquanto o que dá a pensar já é dele mesmo o que exige de ser guardado no pensamento. Nomearemos agora e em seguida o que exige continuamente (porque desde sua origem e antes de toda outra coisa) de ser guardado no pensamento: «o que dá mais a pensar». O que é «o que dá mais a pensar»? Como se mostra em nosso tempo que dá a pensar?
O que dá mais a pensar é que não pensamos ainda; sempre «ainda não», embora o estado do mundo se torne constantemente o que dá deveras a pensar. Esta evolução do mundo parece no entanto exigir, ao invés, que o homem aja, e isto sem demora, em lugar de falar nas conferências e nos congresso, em lugar de se mover na simples representação do que deveria ser e da maneira que seria preciso fazê-lo. Há portanto falta de agir e de maneira alguma de pensamento. [{HEIDEGGER, Martin. Qu’appelle-t-on penser?. Tr. BECKER, Aloys & GRANEL, Gérard. Paris: PUF, 1992.}]