Traçaríamos uma imagem bem estranha dos pensadores [Denker] se achássemos que eles pensam sem errar. Os pensadores essenciais são precisamente aqueles que pensam o verdadeiro, apesar dos vários erros [Fehler] que lhes “ocorrem”. Por isso, também a discussão entre pensadores possui um caráter e sentido diversos da crítica e polêmica, tão necessárias e habituais no campo das ciências. A discussão entre pensadores [Auseinandersetzung der Denker] não negocia criticamente se o dito é correto ou incorreto [Gesagte richtig oder unrichtig]. Sua discussão é o pronunciamento, sempre diverso, a respeito do modo em que se pensa originariamente o pensado, o modo em que este se aproxima ou afasta da origem, a ponto de manter-se sempre numa distância, e da experiência de que tudo aquilo que cada pensador pensa é, no fundo, sempre o uno e o mesmo. A “originalidade” de um pensador consiste no fato de lhe ser dado pensar, na maior pureza, o mesmo [Selbe] e apenas o mesmo que os primeiros pensadores “também já” pensaram. [HEIDEGGER, Martin. Heráclito. Tr. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998, p. 55]