Kunstwerks
Provavelmente é supérfluo e [até mesmo] desconcertante perguntar por isso, pois a obra de arte, ultrapassando o [seu] carácter de coisa, é ainda algo de outro. E este algo de outro que aí está que constitui o artístico. E certo que a obra de arte é uma coisa confeiçoada [angefertigt], porém ela diz ainda algo de outro que não aquilo que a mera coisa é – allo agoreuei. A obra, com um outro, dá a conhecer publicamente um outro, revela algo de outro4 – é alegoria. Na obra de arte, há ainda algo de outro que é posto em conjunto com a coisa confeiçoada. ‘Pôr em conjunto’ diz-se em grego symballein. A obra é símbolo.
A alegoria e o símbolo constituem o enquadramento conceptual da perspectiva em que a caracterização da obra de arte se move desde há muito. Contudo, este algo na obra que revela algo de outro é o carácter de coisa das obras de arte. Quase parece que o carácter de coisa na obra de arte é como que o alicerce no qual e sobre o qual esse algo de outro, que é aquilo que é próprio [da obra], é construído. E não é este carácter de coisa na obra aquilo que o artista, com o seu trabalho manual [Handwerk], faz propriamente? [GA9BD:11-12]