O mathemata, o matemático, é aquele “acerca” das coisas que já conhecemos verdadeiramente, de modo antecipado; aquilo que, em consequência, não começamos por ir buscar às coisas, mas que, de certo modo, levamos connosco até elas. A partir daqui, podemos já compreender por que motivo o número, por exemplo, é qualquer coisa de matemático. Vemos três cadeiras e dizemos: são três. O que é “três” não nos é dito pelas três cadeiras, nem sequer por três maçãs, três gatos, nem por quaisquer outras três coisas. Pelo contrário, podemos contar as coisas até três porque já sabemos o que é o «três». Assim, na medida em que conhecemos o número três enquanto tal, tomamos expressamente, de qualquer coisa, um conhecimento que, de certo modo, já possuímos. O número é qualquer coisa que, em sentido próprio, se pode aprender, um mathemata, quer dizer, qualquer coisa de matemático. Para conceber o três enquanto tal, quer dizer, a triplicidade, as coisas não nos são de nenhum auxílio. O três – que é isso verdadeiramente? O número que, na série natural dos números, se encontra em terceiro lugar. Em «terceiro»! O número três só existe porque o três existe. E (“lugar” – de onde vêm os lugares? O três não é o terceiro número, mas o primeiro número, embora não venha em primeiro lugar. Temos, por exemplo, um pedaço de pão e uma faca, um aqui e a outra ali. Quando os tomamos ao mesmo tempo dizemos «ambos» (diese beiden), um e o outro, e não «estes dois» (diese zwei), não 1 + 1. Quando, por exemplo, ao pão e à faca se acrescenta uma taça e tomamos ao mesmo tempo aquilo que nos é dado, dizemos «todos»; agora, tomamo-los como um todo, como um conjunto de muitos, como tantos e tantos. Só a partir do terceiro o um de há pouco se tornou o primeiro e o outro de há pouco se tornou o segundo, apareceu o um e o dois, do «e» surgiu o «mais», apareceu a possibilidade do lugar e da série. Aquilo de que já tomamos conhecimento, não o tiramos de quaisquer coisas. Tomamos aquilo que, de certo modo, nós próprios já temos. É um aprender de tal ordem que deve concebido como sendo o matemático. Tudo isto de que tomamos conhecimento, aprendemo-lo sem qualquer referência às coisas. Porque, no nosso comércio quotidiano com as coisas, ao calculá-las e, por consequência, ao enumerá-las, coisas tais como os números estão na maior proximidade daquilo de que tomamos conhecimento na relação com as coisas, sem que o tenhamos tirado delas, são os números a forma mais conhecida do matemático. Por consequência, esta forma mais corrente do matemático transformou-se no matemático puro e simples. Mas a essência do matemático não reside no número, como pura delimitação da pura quantidade, mas, ao invés, é porque o número tem uma tal essência que ele pertence ao que se pode aprender, no sentido mathesis. [OQC 80]