Para a higiene dos “fracos”. — Tudo o que é feito na fraqueza malogra. Moral: não fazer nada. Mas o pior é que justamente a força para tirar o fazer de seus gonzos (auszuhängen), a força de não reagir está extremamente doente sob influência da debilidade: o pior é que nunca se age mais rápida e cegamente do que quando absolutamente não se deveria reagir…
A força de uma natureza mostra-se no aguardar e adiar de uma reação: uma certa αδιαφσρία 1 é-lhe tão própria como é própria à debilidade a não liberdade em relação ao movimento reativo, ao repentino, à inexorabilidade da “ação”… A vontade é fraca: e a receita para prevenir coisas tolas seria ter vontade forte e não fazer nada… Contradictio 2… Uma espécie de autodestruição, o instinto de conservação está comprometido… A debilidade prejudica a si mesma… esse é o tipo da décadence…
De fato, encontramos uma reflexão imensa sobre práticas para provocar a impassibilidade. O instinto está, nessa medida, na pista certa, quando nada fazer é mais proveitoso do que fazer algo…
Todas as práticas das ordens, dos filósofos solitários, dos faquires são inspiradas no critério correto de que uma certa espécie de homem tira o melhor proveito quando se impede, tanto quanto possível, de agir —
Meio de facilitação: a obediência absoluta, a atividade maquinal, a separação de homens e coisas que fomentem uma decisão imediata e um agir.
[Excerto de NIETZSCHE, Friedrich. A Vontade de Poder. Tr. Marcos Sinésio Pereira Fernandes e Francisco José Dias de Moraes. Rio de Janeiro: Contraponto, 2011, §45]