O regresso a Kant foi motivado pela perspectiva de encontrar em Kant a fundamentação e a confirmação filosófica da concepção positivista da ciência (v. positivismo). Mas, ao mesmo tempo, foi um afastamento consciente em relação ao Idealismo Alemão, um afastamento que se compreendeu a si mesmo como afastamento da metafísica. Com isto, o novo movimento em direção a Kant tomou a sua filosofia como destruição da metafísica. Chama-se «neokantismo» a este movimento de regresso a Kant, em contraste com os seguidores de Kant seus contemporâneos, os kantianos de outrora. Quando passamos em revista, a partir da nossa posição atual, este movimento de regresso a Kant, deve, simultaneamente, questionar-se se ele poderia recuperar, ou mesmo se poderia sequer encontrar, a posição-de-fundo do Idealismo Alemão acerca de Kant, que também queria, simplesmente, contorná-lo e superá-lo. De fato, este não foi, nem é, o caso. Deste movimento filosófico, o neokantismo, resultaram decerto serviços incontestáveis, no interior da história espiritual da segunda metade do século XIX. São, antes de quaisquer outros, em número de três:
1) Através da renovação, mesmo parcial, da filosofia de Kant, o positivismo foi preservado de um resvalar completo para a divinização dos fatos; 2) a própria filosofia de Kant, através de uma interpretação e de um trabalho cuidadoso dos seus escritos, tornou-se conhecida em toda a sua extensão; 3) a investigação geral da história da filosofia, em particular também a dos antigos, foi elevada, tendo por guia a filosofia de Kant, a um nível mais elevado de questionamento. [GA41]